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Capítulo 13: Capítulo 13

Página 386
Depois, pouco a pouco, o que era capricho frágil, cheio de inquietação, tornar-se-ia uma boa amizade, bem segura e bem duradoura.

Calou-se; e então, no silêncio, sentiu que ela, caída para o canto do coupé, como uma coisa miserável e meio morta, encolhida no seu véu, estava chorando baixo.

Foi um momento intolerável. Ela chorava sem violência, mansamente, com um choro lento, que parecia não dever findar. E Carlos só achava esta palavra banal e desenxabida:

- Que tolice, que tolice!

Vinham rodando ao comprido das casas, por diante da fábrica do gás. Um americano passou alumiado, com senhoras vestidas de claro. Naquela noite de verão e de estrelas, havia gente vagueando tranquilamente entre as árvores. Ela continuava a chorar.

Aquele pranto triste, lento, correndo a seu lado, começou a comovê-lo; e ao mesmo tempo quase lhe queria mal por ela não reter essas lágrimas infindáveis que laceravam o seu coração... E ele que estava tão tranquilo, no Ramalhete, na sua poltrona, sorrindo a tudo, numa deliciosa lassidão!

Tomou-lhe a mão, querendo acalmá-la, apiedado, e já impaciente.

- Realmente não tem razão. É absurdo... Tudo isto é para seu bem...

Ela leve enfim um movimento, enxugou os olhos, assoou-se doloridamente por entre longos soluços... E de repente, num arranque de paixão, atirou-lhe os braços ao pescoço, prendendo-se a ele com desespero, esmagando-o contra o seu seio.

- Oh meu amor, não me deixes, não me deixes! Se tu soubesses! És a única felicidade que eu tenho na vida... Eu morro, eu mato-me!... Que te fiz eu? Ninguém sabe do nosso amor... E que soubesse! Por ti sacrifico tudo, vida, honra, tudo! tudo!...

Molhava-lhe a face com o resto das suas lágrimas; e ele abandonava-se, sentindo aquele corpo sem colete, quente e como nu, subir-lhe para os joelhos, colar-se ao seu, num furor de o repossuir, com beijos sôfregos, furiosos, que o sufocavam... Subitamente a tipoia parou. E um momento ficaram assim - Carlos imóvel, ela caída sobre ele e arquejando.

Mas a tipoia não continuava.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 386

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605