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Capítulo 14: Capítulo 14

Página 422

E seria tão fácil, desde o primeiro dia no Aterro, ter percebido que aquela deusa, descida das nuvens, estava amigada com um brasileiro! Mas quê! a sua paixão absurda de romântico pusera-lhe logo, entre os olhos e as coisas flagrantes e reveladoras, uma dessas névoas douradas que dão às montanhas mais rugosas e negras um brilho polido de pedra preciosa! Porque escolhera ela precisamente para seu médico, na sua casa e na sua intimidade, o homem que na rua a fitara com um fulgor de desejo na face? Porque é que nas suas longas conversas, nas manhãs da rua de S. Francisco, não falara jamais de Paris, dos seus amigos e das coisas da sua casa? Porque é que ao fim de dois meses, sem preparação, sem todas essas progressivas evidencias do amor que cresce e desabrocha como uma flor, se lhe abandonara de chofre, toda pronta, apenas ele lhe disse o primeiro «amo-te»?... Porque lhe aceitara uma casa já mobilada, com a facilidade com que lhe aceitava os ramos? E outras coisas ainda, pequeninas, mas que não teriam escapado ao mais simples: jóias brutais, de um luxo grosseiro de cocote: o livro da Explicação de sonhos, à cabeceira da cama; a sua familiaridade com Melanie... E agora até o ardor dos seus beijos lhe parecia vir menos da sinceridade da paixão - que da ciência da voluptuosidade!... Mas tudo acabara, providencialmente! A mulher que ele amara e as suas seduções esvaíam-se de repente no ar como um sonho, radiante e impuro, de que aquele brasileiro o viera acordar por caridade! Esta mulher era apenas a Mac-Gren... O seu amor fora, desde que a vira, como o próprio sangue das suas veias; e escoava-se agora todo através da ferida incurável e que nunca mais fecharia, feita no seu orgulho!

Ega apareceu à porta do salão, ainda pálido:

- Então?

Toda a cólera de Carlos fez explosão:

- Extraordinário, Ega, extraordinário! A coisa mais abjecta, a coisa mais imunda!

- O homem pediu-te dinheiro?

- Pior!

- E, passeando arrebatadamente, Carlos desabafou, contou tudo, sem reticências, com as mesmas palavras cruas do outro, - que assim repetidas e avivadas pelos seus lábios, lhe descobriam motivos novos de humilhação e de nojo.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 422

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605