Os Maias - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 451 / 630

- Sim... Em qualquer lugar onde haja um altar e uma estola. Isso não falta em Itália... E é então, Ega, que reaparece o espinho de toda esta felicidade. É por isso que eu disse «quasi.» O terrível espinho, o avô! - É verdade, o velho Afonso. Tu não tens ideia como lhe hás de fazer conhecer esse caso?...

Carlos não tinha ideia nenhuma. Sentia só que lhe faltava absolutamente a coragem de dizer ao avô: «esta mulher, com quem vou casar, teve na sua vida estes erros»... E além disso, já reflectira, era inútil. O avô nunca compreenderia os motivos complicados, fatais, iniludíveis que tinham arrastado Maria. Se lhos contasse miudamente o avô veria ali um romance confuso e frágil, antipático à sua natureza forte e cândida. A fealdade das culpas feri-lo-ia, exclusivamente; e não lhe deixaria apreciar, com serenidade, a irresistibilidade das causas. Para perceber este caso de um carácter nobre apanhado dentro de uma implacável rede de fatalidades, seria necessário um espírito mais dúctil, mais mundano que o do avô... O velho Afonso era um bloco de granito: não se podiam esperar dele as subtis discriminações de um casuísta moderno. Da existência de Maria só veria o facto tangível: - caíra sucessivamente nos braços de dois homens. E daí decorreria toda a sua atitude de chefe de família. Para que havia ele pois de fazer ao velho uma confissão, que necessariamente originaria um conflito de sentimentos e uma irreparável separação doméstica?...

- Pois não te parece, Ega?

- Fala mais baixo, olha o cocheiro.

- Não percebe bem o português, sobretudo o nosso estilo... Pois não te parece?

Ega raspava fósforos na sola para acender o charuto. E resmungava:

- Sim, o velho Afonso é granítico...

Por isso Carlos concebera outro plano, mais sagaz: consistia em esconder ao avô o passado de Maria - e fazer-lhe conhecer a pessoa de Maria. Casavam secretamente em Itália. Regressavam: ela para a rua de S. Francisco, ele filialmente para o Ramalhete.

Depois Carlos levava o avô a casa da sua boa amiga, que conhecera em Itália, M. de Mac-Gren.





Os capítulos deste livro