Carlos ficou imóvel entre as acácias, com o jornal na mão, no espanto furioso e mudo de um homem que subitamente recebe na face uma grossa chapada de lodo! Não era a cólera de ver o seu amor assim aviltado na publicidade chula de um jornal sórdido: era o horror de sentir aquelas frases em calão, pandilhas, afadistadas, como só Lisboa as pode criar, pingando fetidamente, à maneira de sebo, sobre si, sobre Maria, sobre o esplendor da sua paixão... Sentia-se todo emporcalhado. E uma única ideia surgiu através da sua confusão matar o bruto que escrevera aquilo.
Matá-lo! Ega sustara a tiragem da folha, Ega pois conhecia o foliculário. Nada importava que aqueles números, que tinha na mão, fossem os únicos impressos. Recebera lama na face. Que a injúria fosse espalhada nas praças numa profusa publicidade ou lhe fosse atirada só a ele escondidamente num papel único, era igual... Quem tanto ousara tinha de cair, esmagado!
Decidiu ir logo ao Ramalhete. O Domingos à janela da cozinha areava pratas, assobiando. Mas quando Carlos lhe falou de ir buscar um calhambeque aos Olivais, o bom Domingos consultou o relógio:
- V. Ex.ª tem às onze horas a caleche do Torto que a senhora mandou cá estar para ir a Lisboa...