Os Maias - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 465 / 630

«O simplório, que bate aí pilecas bifes, que nem que fosse o «marquês, o verdadeiro Marquês, imaginava que se estava «abiscoitando com uma senhora do chic, e do boulevard de Paris, e «casada, e titular!... E no fim (não, esta é para a gente deixar estoirar o «bandulho a rir!) no fim descobre-se que a tipa era uma cocote «safada, que trouxe para aí um brasileiro já farto dela para a «passar cá, aos belos lusitanos... E caiu a espiga ao Maia! Pobre palerma! «Ainda assim o sô Maia só apanhou os restos doutro, porque a «tipa já antes dele se enfeitar, tinha pandegado à larga, «aí para a rua de S. Francisco com um rapaz da fina, que se safou «também, porque cá como nós só aprecia a bela espanhola. Mas «não obsta a que o sô Maia seja traste! - Pois se assim é, dissemos «nós, cautelinha, porque o diabo cá tem a sua Corneta preparada «para cornetear por esse mundo as façanhas do Maia das «conquistas. Ora viva, sô Maia!»

Carlos ficou imóvel entre as acácias, com o jornal na mão, no espanto furioso e mudo de um homem que subitamente recebe na face uma grossa chapada de lodo! Não era a cólera de ver o seu amor assim aviltado na publicidade chula de um jornal sórdido: era o horror de sentir aquelas frases em calão, pandilhas, afadistadas, como só Lisboa as pode criar, pingando fetidamente, à maneira de sebo, sobre si, sobre Maria, sobre o esplendor da sua paixão... Sentia-se todo emporcalhado. E uma única ideia surgiu através da sua confusão matar o bruto que escrevera aquilo.

Matá-lo! Ega sustara a tiragem da folha, Ega pois conhecia o foliculário. Nada importava que aqueles números, que tinha na mão, fossem os únicos impressos. Recebera lama na face. Que a injúria fosse espalhada nas praças numa profusa publicidade ou lhe fosse atirada só a ele escondidamente num papel único, era igual... Quem tanto ousara tinha de cair, esmagado!

Decidiu ir logo ao Ramalhete. O Domingos à janela da cozinha areava pratas, assobiando. Mas quando Carlos lhe falou de ir buscar um calhambeque aos Olivais, o bom Domingos consultou o relógio:

- V. Ex.ª tem às onze horas a caleche do Torto que a senhora mandou cá estar para ir a Lisboa...





Os capítulos deste livro