Ultimamente passara mal... Mas, olhando o relógio, Afonso interrompeu a relação desses achaques.
- Vilaça, vá-se arranjar, depressa, que daqui a pouco é o jantar.
O administrador surpreendido olhou também o relógio, depois a mesa já posta, os seis talheres, o cesto de flores, as garrafas de Porto.
- Então v. Ex.ª agora janta de manhã? Eu pensei que era o almoço...
- Eu lhe digo, o Carlos necessita ter um regímen. De madrugada está já na quinta; almoça às sete; e janta à uma hora. E eu, enfim, para vigiar as maneiras do rapaz...
- E o Sr. Afonso da Maia, exclamou Vilaça, a mudar de hábitos, nessa idade! O que é ser avô, meu senhor!
- Tolice! não é isso... É que me faz bem. Olhe que me faz bem!... Mas avie-se, Vilaça, avie-se que Carlos não gosta de esperar... Talvez tenhamos o abade.
- O Custodio? Rica cousa! Então, se v. Ex.ª me dá licença...
Apenas no corredor, o mordomo, ansioso por conversar com o Sr. administrador, perguntou-lhe, desembaraçando-o do guarda sol e do chale manta:
- Com franqueza, como nos acha por cá, pela quinta Sr. Vilaça?
- Estou contente, Teixeira, estou contente. Pode-se vir por gosto a Sta. Olávia.
E, pousando familiarmente a mão no ombro do escudeiro, piscando o olho ainda húmido:
- Tudo isto é o menino. Fez reviver o patrão! O Teixeira riu respeitosamente. O menino realmente era a alegria da casa...
- Olá! Quem toca por cá? exclamou Vilaça, parando nos degraus da escada, ao ouvir em cima um afinar gemente de rebeca.
- É o Sr. Brown, o inglês, o preceptor do menino... Muito habilidoso, é um regalo ouvi-lo; toca às vezes à noite na sala, o Sr. juiz de direito acompanha-o na concertina... Aqui, Sr. Vilaça, o quarto de v. s.ª...
- Muito bonito, sim senhor!
O verniz dos móveis novos brilhava na luz das duas janelas, sobre o tapete alvadio semeado de florzinhas azuis: e as bambinelas, os reposteiros de cretone, repetiam as mesmas folhagens azuladas sobre fundo claro. Este conforto fresco e campestre deleitou o bom Vilaça.