Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 15: Capítulo 15

Página 508
Pois cá a política em Portugal também se lançou na corrente realista. No tempo da Regeneração e dos Históricos a política era o progresso, a viação, a liberdade, o palavrório... Nós mudamos tudo isso. Hoje é o facto positivo, - o dinheiro, o dinheiro! o bago! a massa! A rica massinha da nossa alma, menino! O divino dinheiro!

E de repente emudeceu, sentindo na sala um silêncio - onde o seu grito de «dinheiro! dinheiro!» parecera ficar vibrando, no ar quente do gás, com a prolongação de um toque de rebate acordando as cobiças, chamando ao longe e ao largo todos os hábeis para o saque da pátria inerte!...

O Neves desaparecera. Os cavalheiros de província dispersavam, uns enfiando o paletó, outros sem pressa dando um olhar amortecido aos jornais sobre a mesa. E o Gonçalo bruscamente disse adeus ao Ega, rodou nos tacões, desapareceu também,

abraçando ao passar um dos padres a quem tratou de «malandro!»

Era meia noite, Ega saiu. E na tipoia que o levava ao Ramalhete, já mais calmo, começou logo a reflectir que o resultado da publicação da carta seria despertar em toda Lisboa uma curiosidade voraz. A «questão de cavalos» com que o Neves se contentara prontamente, distraído e absorvido nessa noite pela crise, - ninguém mais a acreditaria... O Dâmaso decerto, interrogado, para se desculpar, contaria horrores de Maria e de Carlos: e uma intolerável luz de escândalo ia bater coisas que deviam permanecer na sombra.

Eram talvez apoquentações, desesperos que ele assim estivera preparando a Carlos - por causa de um odiozinho ao Dâmaso. Nada mais egoísta e pequeno!... E subindo para o quarto Ega decidia correr depois do almoço à redacção da Tarde, suster a publicação da carta.

Mas toda essa noite sonhou com Rachel e com Dâmaso. Via-os rolando por uma estrada sem fim, entre pomares e vinhedos, deitados numa carroça de bois, sobre um enxergão onde se desdobrava, lasciva e rica, a sua colcha de cetim preto da vila Balzac: os dois beijavam-se, enroscados, sem pudor, sob a fresca sombra que caía dos ramos, ao chiar lento das rodas.

<< Página Anterior

pág. 508 (Capítulo 15)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 508

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605