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Capítulo 16: Capítulo 16

Página 524
E justamente Cruges, depois de bater dois acordes bruscos, arredara o mocho, esgueirava-se do estrado, enxugando as mãos ao lenço. Aqui e além algumas palmas ressoaram, moles e de cortesia, entre um grande murmúrio de alívio.

E o Ega e Carlos correram à porta, onde já esperavam o marquês, o Craft, o Taveira - para abraçar, consolar o pobre Cruges que tremia todo, com os olhos esgazeados.

E imediatamente, no silêncio atento que predominava, um sujeito muito magro, muito alto, surgiu no tablado, com um manuscrito na mão. alguém ao lado do Ega disse que era o Prata, que ia falar sobre o Estado agrícola da província do Minho. Atrás, um criado veio colocar sobre a mesa um candelabro de duas velas: o Prata, de ilharga para a luz, mergulhou no caderno: e dentre o perfil triste e as folhas largas um rumor lento foi escorrendo, rumor de reza numa sonolência de novena, onde por vezes destacavam como gemidos - «riqueza dos gados..., esfacelamento da propriedade..., fértil e desprotegida região...»

Começou então uma debandada sorrateira e formigueira, que nem os chuts do comissário do sarau, vigilante e de pé sobre um degrau do estrado, podiam conter. Só as senhoras ficavam; e um ou outro burocrata idoso, que se inclinava zelosamente para o murmúrio de reza, com a mão em concha sobre a orelha.

Ega, que fugia também «ao vicejante paraíso do Minho», achou-se em frente do Sr. Guimarães.

- Que maçada, hein?

O democrata concordou que aquele preopinante não lhe parecia divertido... Depois, mais sério, com outra ideia, segurando um botão da casaca do Ega:

- Eu espero que V. Ex.ª há pouco não ficasse com a impressão de que eu sou solidário ou me importo com meu sobrinho...

Oh! decerto que não! Ega vira bem que o Sr. Guimarães não tinha pelo Dâmaso nenhum entusiasmo de família.

- Asco, senhor, só asco! Quando ele foi a primeira vez a Paris, e soube que eu morava numa trapeira, nunca me procurou! Porque aquele imbecil dá-se ares de aristocrata... E como V. Ex.ª sabe, é filho de um agiota!

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 524

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605