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Capítulo 16: Capítulo 16

Página 548
Ficavam só dois animais, nascidos do mesmo ventre, juntando-se a um canto como cães, sob o impulso bruto do cio!

Correu para o seu quarto, fugindo àquela visão a que o escuro do corredor, mal dissipado pela luz tremula, acentuava mais o relevo. Aferrolhou a porta; acendeu à pressa sobre o toucador, uma depois da outra, com a mão agitada, as seis velas dos candelabros. E agora aparecia-lhe mais urgente, inevitável, a necessidade de contar tudo a Carlos. Mas ao mesmo tempo sentia em si, a cada instante, menos animo para chegar, encarar Carlos, e destruir-lhe a felicidade e a vida com uma revelação de incesto. Não podia! Outro que lho dissesse! Ele lá estava depois para o consolar, tomar metade da sua dor, carinhoso e fiel. Mas o desgosto supremo da vida de Carlos não viria de palavras caídas da sua boca!... Outro que lho dissesse! Mas quem? Mil ideias passavam na sua pobre cabeça, incoerentes e tontas. Pedir a Maria que fugisse, desaparecesse... Escrever uma carta anónima a Carlos, com a detalhada história do Guimarães... E esta confusão, esta ansiedade ia-se resolvendo lentamente em ódio ao Sr. Guimarães. Para que falara àquele imbecil? Para que insistira em lhe confiar papeis alheios? Para que lho apresentara o Alencar? Ah! se não fosse a carta do Dâmaso... Tudo provinha do maldito Dâmaso!

Agitando-se pelo quarto, ainda de chapéu, os seus olhos caíram num sobrescrito pousado sobre a mesa de cabeceira.

Reconheceu a letra do Vilaça. E nem a abriu... Uma ideia sulcara-o de repente. Contar tudo ao Vilaça!... Porque não? Era o procurador dos Maias. Nunca para ele houvera segredos naquela casa. E esta complicação singular de uma senhora da família, considerada morta e que surge inesperadamente - a quem a pertencia aclarar senão ao fiel procurador, ao velho confidente, ao homem que, por herança e por destino, recebera sempre todos os segredos e partilhara todos os interesses domésticos?... E sem pensar, sem aprofundar mais, fixou-se logo nesta decisão salvadora, - que ao menos o sossegava, lhe tirava já do coração um peso de ferro, sufocante e intolerável...

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 548

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605