Os Maias - Cap. 17: Capítulo 17 Pág. 557 / 630

- Eu?

- Você, que é o procurador da casa!

Que havia ali, senão uma questão de filiação, portanto de legítima? A quem pertenciam esses detalhes legais senão ao procurador?

Vilaça murmurou com todo o sangue na face:

- Homem, o amigo mete-me numa!...

Não. Ega metia-o apenas naquilo em que o Vilaça, como procurador, logicamente e profissionalmente devia estar.

O outro protestou, tão perturbado que gaguejava. Que diabo! Não era esquivar-se aos seus deveres! Mas é que ele não sabia nada! Que podia dizer ao Sr. Carlos da Maia? «O amigo Ega veio-me contar isto, que lhe contou um tal Guimarães ontem à noite no Loreto...» Não tinha a dizer mais nada...

- Pois diga isso.

O outro encarou Ega com olhos que chamejavam:

- Diga isso, diga isso... Que diabo, senhor, é necessário ter topete!

Deu um puxão desesperado ao colete, foi bufando até ao fundo do cubículo, onde esbarrou com o armário. Voltou, tornou a encarar o Ega:

- Não se vai a um homem com uma coisa dessas sem provas... Onde estão as provas?...

- Ó Vilaça, desculpe, você está obtuso!... A que vim eu aqui senão trazer-lhe as provas, as que há, boas ou más, a história do Guimarães, essa caixa com os papeis da Monforte?...

Vilaça, que resmungava, foi examinar a caixa, virando-a nas mãos, decifrando o mote do sinete Pro amore.

- Então, abrimo-la?

Já Ega puxara uma cadeira para a mesa. Vilaça cortou o papel, gasto nos cantos, que envolvia o cofre. E apareceu efectivamente uma velha caixa de charutos pregada com duas taxas, cheia de papeis, alguns em maços apertados por fitas, outros soltos dentro de sobrescritos abertos que tinham o monograma da Monforte sob uma coroa de marquês. Ega desembrulhou o primeiro maço. Eram cartas em alemão, que ele não percebia, datadas de Buda-Pesth e de Carlsruhe.

- Bem, isto não nos diz nada... Adiante!

Outro embrulho, a que Vilaça cuidadosamente desapertou o nó cor de rosa, resguardava uma caixa oval com a miniatura de um homem de bigodes e suíças ruivas, entalado na alta gola dourada de uma farda branca.





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