Os Maias - Cap. 17: Capítulo 17 Pág. 562 / 630

Esse banho lustral foi tomá-lo ao Hotel Braganza, para se encontrar com Carlos e com Vilaça às onze horas já lavado e preparado. Mas precisou esperar pela roupa branca que o cocheiro, com um bilhete para o Baptista, voara a buscar ao Ramalhete: depois almoçou: e já batera meio-dia quando se apeou à porta particular dos quartos de Carlos, com a roupa suja numa trouxa.

Justamente Baptista atravessava o patamar com camélias num açafate.

- O Vilaça já veio? Perguntou-lhe Ega baixo, andando em pontas de pés.

- O Sr. Vilaça já lá está dentro há bocado. V. Ex.ª recebeu a roupa branca?... Eu também mandei um fato, porque nesses casos sempre dá mais frescura...

- Obrigado, Baptista, obrigado!

E Ega pensava: - «Bem, Carlos já sabe tudo, o barranco está passado!» Mas demorou-se ainda, tirando as luvas e o paletó com uma lentidão cobarde. Por fim, sentindo bater alto o coração, puxou o reposteiro de veludo. Na antecâmara pesava um silêncio; a chuva grossa fustigava a porta envidraçada, por onde se viam as árvores do jardim esfumadas na névoa. Ega levantou o outro reposteiro que tinha bordadas as armas dos Maias.

- Ah! És tu? exclamou Carlos, erguendo-se da mesa de trabalho com uns papéis na mão.

Parecia ter conservado um ânimo viril e firme: apenas os olhos lhe rebrilhavam, com um fulgor seco, ansiosos e mais largos na palidez que o cobria. Vilaça, sentado defronte, passava vagarosamente pela testa, num movimento cansado, o lenço de seda da India. Sobre a mesa alastravam-se os papéis da Monforte.

- Que diabo de embrulhada é esta que me vem contar o Vilaça? rompeu Carlos, cruzando os braços diante do Ega, numa voz que apenas de leve tremia.

Ega balbuciou:

- Eu não tive coragem de te dizer...

- Mas tenho eu para ouvir!... Que diabo te contou esse homem?

Vilaça ergueu-se imediatamente. Ergueu-se com a pressa de um galucho tímido que é rendido num posto arriscado, pediu licença, se não precisavam dele, para voltar ao escritório.





Os capítulos deste livro