Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 17: Capítulo 17

Página 567

Por fim Afonso ergueu-se, fortemente encostado à bengala, foi pousar sobre a mesa o papel da Monforte. Deu um olhar, sem lhes tocar, às cartas espalhadas em volta da caixa de charutos. Depois, lentamente, passando a mão pela testa:

- Nada mais sei... Sempre pensamos que essa criança tinha morrido... Fizeram-se todas as pesquisas... Ela mesma disse que lhe tinha morrido a filha, mostrou já não sei a quem um retrato...

- Era outra mais nova, a filha do italiano, disse o Ega. O Guimarães falou-me nisso... Foi esta que viveu. Esta, que tinha já sete ou oito anos, quando havia apenas quatro ou cinco que esse sujeito italiano aparecera em Lisboa... Foi esta.

- Foi esta, murmurou o velho.

Teve um gesto vago de resignação, acrescentou, depois de respirar fortemente:

- Bem! Tudo isto tem de ser mais pensado... Parece-me bom tornar a chamar o Vilaça... Talvez seja necessário que ele vá a Paris... E antes de tudo precisamos sossegar... De resto não há aqui morte de homem... Não há aqui morte de homem!

A voz sumia-se-lhe, toda trémula. Estendeu a mão a Carlos que lha beijou, sufocado; e o velho, puxando o neto para si, pousou-lhe os lábios na testa. Depois deu dois passos para a porta, tão lentos e incertos que Ega correu para ele:

- Tome V. Ex.ª o meu braço...

Afonso apoiou-se nele, pesadamente. Atravessaram a antecâmara silenciosa onde a chuva contínua batia nos vidros. Por traz deles caiu o grande reposteiro com as armas dos Maias. E então Afonso, de repente, soltando o braço do Ega, murmurou-lhe, junto à face, no desabafo de toda a sua dor:

- Eu sabia dessa mulher!... Vive na rua de S. Francisco, passou todo o verão nos Olivais... É a amante dele!

Ega ainda balbuciou: «Não, não, Sr. Afonso da Maia!» Mas o velho pôs o dedo nos lábios, indicou Carlos dentro que podia ouvir... E afastou-se, todo dobrado sobre a bengala, vencido enfim por aquele implacável destino que depois de o ter ferido na idade de força com a desgraça do filho - o esmagava ao fim de velhice com a desgraça do neto.

Ega enervado, exausto, voltou para o quarto - onde Carlos recomeçara naquele agitado passeio que abalava o soalho, fazia tilintar finamente os frascos de cristal sobre o mármore da console.

<< Página Anterior

pág. 567 (Capítulo 17)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 567

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605