- Acredite o amigo, fez-me impressão! Caramba, bela mulher! Dá-nos uma bolada, mas é uma soberba praça!
O comboio partiu. O Domingos ficava choramingando com um lenço de cores sobre a face. E o Neves, o conselheiro do Tribunal de Contas, ainda furioso, vendo o Ega à portinhola, atirou-lhe de lado, disfarçadamente, um gesto obsceno.
No Entroncamento Ega veio bater nos vidros do salão que se conservava fechado e mudo. Foi Maria que abriu. Rosa dormia. Miss Sarah lia a um canto, com a cabeça numa almofada. E Niniche assustada ladrou.
- Quer tomar alguma coisa, minha senhora ?
- Não, obrigada...
Ficaram calados, enquanto Ega com o pé no estribo tirava lentamente a charuteira. Na estação mal alumiada passavam saloios, devagar, abafados em mantas. Um guarda rolava uma carreta de fardos. Adiante a máquina resfolegava na sombra. E dois sujeitos rondavam em frente do salão, com olhares curiosos e já lânguidos para aquela magnifica mulher, tão grave e sombria, envolta na sua peliça negra.
- Vai para o Porto? murmurou ela.
- Para Santa Olávia...
- Ah!
Então Ega balbuciou com os beiços a tremer:
- Adeus!
Ela apertou-lhe a mão com muita força, em silêncio, sufocada.
Ega atravessou, devagar, por entre soldados de capote enrolado a tiracolo que corriam a beber à cantina. à porta do bufete voltou-se ainda, ergueu o chapéu. Ela, de pé, moveu de leve o braço num lento adeus. E foi assim que ele pela derradeira vez na vida viu Maria Eduarda, grande, muda, toda negra na claridade, à portinhola daquele wagon que para sempre a levava.