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Capítulo 18: Capítulo 18

Página 607
Infelizmente não pôde correr a Santa Olávia, retido num quarto do Braganza com uma angina, desde uma ceia prodigiosamente divertida com que celebrara no Silva a noite de Reis. Vilaça, porém, levou a Carlos para Santa Olávia uma carta em que o Ega, contando a sua angina, lhe suplicava que se não retardasse com o porco nesses penhascos do Douro, e que voasse à grande Capital a trazer a grande nova.

Com efeito, Carlos pouco se demorou em Rezende. E numa luminosa e macia manhã de janeiro de 1887, os dois amigos enfim juntos almoçavam num salão do Hotel Braganza, com as duas janelas abertas para o rio.

Ega, já curado, radiante, numa excitação que não se calmava, alagando-se de café, entalava a cada instante o monóculo para admirar Carlos e a sua «imutabilidade».

- Nem uma branca, nem uma ruga, nem uma sombra de fadiga!... Tudo isso é Paris, menino!... Lisboa arrasa. Olha para mim, olha para isto!

Com o dedo magro apontava os dois vincos fundos ao lado do nariz, na face chupada. E o que o aterrava sobretudo era a calva, uma calva que começara havia dois anos, alastrara, já reluzia no alto.

- Olha este horror! A ciência para tudo acha um remédio, menos para a calva! Transformam-se as civilizações, a calva fica!... Já tem tons de bola de bilhar, não é verdade?... De que será?

- É a ociosidade, lembrou Carlos rindo.

- A ociosidade... E tu, então?

De resto, que podia ele fazer neste país?... Quando voltara de França, ultimamente, pensara em entrar na diplomacia. Para isso sempre tivera a blague: e agora que a mamã, coitada, lá estava no seu grande jazigo em Celorico, tinha a massa. Mas depois reflectira.

Por fim, em que consistia a diplomacia portuguesa? Numa outra forma da ociosidade, passada no estrangeiro, com o sentimento constante da própria insignificância. Antes o Chiado!

E como Carlos lembrava a política, ocupação dos inúteis, Ega trovejou. A política! Isso tornara-se moralmente e fisicamente nojento, desde que o negocio atacara o constitucionalismo como uma filoxera!

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 607

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605