Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 4: Capítulo 4

Página 85
Carlos trazia realmente resoluções sinceras de trabalho: a ciência como mera ornamentação interior do espírito, mais inútil para os outros que as próprias tapeçarias do seu quarto, parecia-lhe apenas um luxo de solitário: desejava ser útil. Mas as suas ambições flutuavam, intensas e vagas; ora pensava numa larga clínica; ora na composição maciça de um livro iniciador; algumas vezes em experiências fisiológicas, pacientes e reveladoras... Sentia em si, ou supunha sentir, o tumulto de uma força, sem lhe discernir a linha de aplicação. «Alguma coisa de brilhante,» como ele dizia: e isto para ele, homem de luxo e homem de estudo, significava um conjunto de representação social e de actividade científica; o remexer profundo de ideias entre as influências delicadas da riqueza; os elevados vagares da filosofia entremeados com requintes de sport e de gosto; um Claude Bernard que fosse também um Morny... No fundo era um diletante.

Vilaça fora consultado sobre a localidade própria para o laboratório; e o procurador, muito lisonjeado, jurou uma diligência incansável. Primeira coisa a saber, o nosso doutor tencionava fazer clínica?...

Carlos não decidira fazer exclusivamente clínica: mas desejava decerto dar consultas, mesmo gratuitas, como caridade e como pratica. Então Vilaça sugeriu que o consultório estivesse separado do laboratório.

- E a minha razão é esta: a vista de aparelhos, máquinas, coisas, faz esmorecer os doentes...

- Tem você razão, Vilaça! exclamou Afonso. Já meu pai dizia: poupe-se ao boi a vista do malho.

- Separados, separados, meu senhor, afirmou o procurador num tom profundo.

Carlos concordou. E Vilaça bem depressa descobriu, para o laboratório, um antigo armazém, vasto e retirado, ao fundo de um pátio, junto ao largo das Necessidades.

- E o consultório, meu senhor, não é aqui, nem acolá; é no Rocio, ali em pleno Rocio!

Esta ideia do Vilaça não era desinteressada. Grande entusiasta da Fusão, membro do Centro progressista, Vilaça Júnior aspirava a ser vereador da câmara, e mesmo em dias de satisfação superior (como quando o seu aniversario natalício vinha anunciado no Ilustrado, ou quando no Centro citava com aplauso a Bélgica) parecia-lhe que tantas aptidões mereciam do seu partido uma cadeira em S. Bento.

<< Página Anterior

pág. 85 (Capítulo 4)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 85

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605