- Tu, aí - gritou com voz trémula. - Tu, aí! - Calou-se, com os braços ainda erguidos, a cabeça atenta como se esperasse uma resposta. John esforçou-se por ver se viriam homens descendo a montanha, mas a montanha estava despida de vida humana. Só havia céu e o flautim trocista do vento ao longo das copas das árvores. Estaria Washington a rezar? Por um momento John interrogou-se. Depois, a ilusão passou; havia qualquer coisa em toda a atitude do homem que era a antítese da oração.
- Oh tu, lá em cima!
A voz tornara-se forte e confiante. Não se tratava de uma súplica desesperada. Se nela havia algo, era a característica de uma monstruosa condescendência.
- Tu, ai...
As palavras saíam depressa demais para se compreenderem, umas a seguir às outras... John escutava sem respiração, apanhando uma frase aqui e ali, enquanto a voz se interrompia, voltava, interrompia-se de novo, ora forte e crítica, ora colorida de uma impaciência lenta e confusa. Então começou a despertar no ouvinte solitário uma convicção, e quando compreendeu subiu por ele um jacto de sangue alvoroçado correndo pelas artérias. Braddock Washington estava subornando Deus!
Era isso, era isso sem dúvida. O diamante nos braços dos escravos era uma amostra prévia, uma promessa do mais que se seguiria.
Era esse, compreendeu John pouco depois, o fio que ligava as frases. Prometeu Enriquecido chamava como testemunhas sacrifícios esquecidos, rituais esquecidos, orações obsoletas de antes do nascimento de Cristo. Por uns minutos o seu discurso tomou a forma de lembrar a Deus estas oferendas, ou o que a Divindade se dignara aceitar dos homens - grandes igrejas por salvar cidades das pragas, dádivas de mirra e ouro, de vidas humanas e de lindas mulheres e de exércitos cativos, de crianças e de rainhas, de animais da floresta e dos campos, carneiros e cabras, colheitas e cidades, terras conquistadas oferecidas em luxúria ou em sangue para O apaziguar, comprando uma recompensa de alívio da ira divina - e agora ele, Braddock Washington, Imperador dos Diamantes, rei e sacerdote de uma idade do ouro, árbitro de esplendor e de fausto, oferecia um tesouro como os príncipes que o precederam nunca sonharam: oferecia-o não em súplica mas com arrogância.