- Olá, Anson Hunter!
O coração dele deu uma volta.
- Olá, Paula.
- Oh, isto é uma maravilha. Nem posso acreditar, Anson!
Ela pegou-lhe em ambas as mãos e na liberdade do gesto ele viu que a recordação-dele já não era pungente para ela. Mas para ele não; sentiu aquela velha disposição que ela evocava nele dominar-lhe o espírito, aquela brandura com que ele sempre enfrentara o seu optimismo, como que com receio de lhe estragar a superfície.
- Estamos a passar o Verão em Rye, Pete tinha de vir à costa leste em negócios - está claro que sabes que agora estou casada com Peter Hagerty - por isso trouxemos as crianças e alugámos uma casa.
Tens de ir visitar-nos.
- Posso? perguntou ele directamente. - Quando?
- Quando quiseres. Aqui está Pete. - A porta giratória funcionou deixando entrar um homem alto e belo, de trinta anos, com o rosto bronzeado e um bigode aparado. A sua elegância imaculada fazia um nítido contraste com a crescente corpulência de Anson, óbvia por baixo do casaco um pouco justo.
- Não devias estar de pé - disse Hagerty para a mulher. - Vamos sentar-nos aqui. - Indicou as cadeiras do vestíbulo, mas Paula hesitou.
- Tenho de ir já para casa - disse ela. - Anson, porque é que tu... - porque é que tu não vens daí jantar connosco? Ainda estamos a instalar-nos mas, se puderes resistir a isso...
Hagerty confirmou o convite com cordialidade.
- Venha passar a noite.
O carro deles esperava em frente do hotel e Paula, num gesto de cansaço, deixou-se cair em cima das almofadas de seda, ao canto.
- Há tanta coisa de que quero conversar contigo - disse ela -, parece uma coisa sem solução.
- Quero saber de ti.
- Bom - sorriu para Hagerty - isso também iria levar muito tempo.