«Corpus Domini nostri Jesu Christi custodiat animam tuam in vitam aeternam.»
Um suor frio brotou da testa de Rudolph quando começou a comunhão. O Padre Schwartz movia-se ao longo da fila e, numa náusea crescente, Rudolph sentia as válvulas do coração enfraquecerem pela vontade de Deus. Parecia-lhe que a igreja estava mais escura e que um grande silêncio tinha caído, apenas interrompido pelo murmúrio indistinto que anunciava a aproximação do Criador do Céu e da Terra. Deixou cair a cabeça para baixo, entre os ombros, e esperou pelo golpe.
Então sentiu uma cotovelada brusca. O pai estava a fazer-lhe sinal para se endireitar, para não ficar caído sobre o anteparo. Faltavam só duas pessoas para o padre chegar.
«Corpus Domini nostri Jesu Christi custodiat animam tuam in vitam aeternam.»
Rudolph abriu a boca. Sentiu o sabor da cera pegajosa da Hóstia na língua. Ficou imóvel pelo que lhe pareceu um espaço de tempo interminável, com a cabeça ainda erguida e a Hóstia na boca, sem se dissolver. Novamente estremeceu com a pressão do cotovelo do pai, e viu que as pessoas se afastavam do altar como folhas de árvores e voltavam para os bancos de olhos baixos e semicerrados, sozinhas com Deus.
Rudolph estava sozinho consigo próprio, ensopado em transpiração e fundamente mergulhado em pecado mortal. Quando regressava ao banco, as pancadas dos seus pés sobre o soalho soavam alto, e ele compreendeu que era veneno negro o que levava no coração.
V
«Sagitta Volante in Dei»
O lindo rapazinho de olhos como pedras azuis e pestanas que nasciam deles como pétalas de flores acabara de contar ao Padre Schwartz o seu pecado - e o quadrado de sol onde estava sentado tinha avançado uma hora dentro da sala.