A Década Perdida - Cap. 4: A ABSOLVIÇÃO Pág. 168 / 182

Rudolph estava agora menos assustado; uma vez liberto da história, seguiu-se uma reacção. Sabia que enquanto estivesse na sala com aquele padre Deus não lhe faria parar o coração, por isso suspirou e ficou sentado muito quieto à espera de que o padre falasse.

Os olhos frios e chorosos do Padre Schwartz estavam fixos sobre o desenho do tapete, onde o sol realçava as cruzes gamadas e as folhas de videira desguarnecidas e uniformes, e os pálidos ecos de flores. O relógio do vestíbulo fazia um tique-taque insistente, a caminho do pôr-do-sol, e da sala feia e, da tarde fora da janela, erguia-se uma monotonia densa quebrada aqui e ali pelo bater ressonante dum martelo distante, no ar seco. Os nervos do padre estavam tensos e as contas do seu rosário enroscavam-se e rastejavam como cobras sobre o feltro verde da cobertura da mesa. Não era capaz de se lembrar do que devia dizer.

Entre todas as coisas desta perdida cidade sueca, o que ele mais notava eram os olhos daquele rapazinho - os lindos olhos, com pestanas que saíam deles com relutância e se curvavam para trás, como que para os encontrarem de novo.

Durante mais uns momentos o silêncio persistiu, enquanto Rudolph esperava e o padre lutava para se lembrar de qualquer coisa que cada vez se afastava mais dele, e o relógio fazia tique-taque na casa pobre. Então o Padre Schwartz olhou intensamente para o rapazinho e observou numa voz especial:

- Quando muita gente se reúne nos melhores lugares as coisas cintilam.

Rudolph estremeceu e olhou rapidamente para a cara do Padre Schwartz.

- Estava a dizer... - começou o padre, e fez uma pausa, escutando. - Ouves o martelo e o relógio a fazer tique-taque e as abelhas? Bem, nada disso presta. O que é preciso é ter muita gente no centro do mundo, onde quer que ele seja.





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