«Cheiro bem», disse para si própria com simplicidade; e, a seguir, outro pensamento: «Sou feita para o amor.»
Gostou do som destas palavras e voltou a pensar nelas; e depois, numa associação de ideias inevitável, surgiu a novidade do tumulto de sonhos ligados a Gordon. O golpe de imaginação que, dois meses antes, lhe revelara o desejo secreto de o ver de novo, parecia tê-la conduzido agora até este baile, até este momento.
Com toda a sua beleza suave, Edith era uma rapariga séria, ponderada. Havia nela traços daquele mesmo desejo de reflexão, daquele idealismo de adolescente que tornara o irmão socialista e pacifista. Henry Bradin tinha saído de Cornell, onde fora encarregado de curso de Economia, e viera para Nova Iorque para apregoar nas colunas de um semanário. radical as curas mais recentes para males incuráveis.
Menos ambiciosa, Edith contentar-se-ia em curar Gordon Sterrett. Havia em Gordon uma faceta de fraqueza de que ela queria cuidar; havia nele um abandono que ela queria proteger. E queria alguém que conhecesse há muito tempo, alguém que a amasse há muito tempo. Estava um tanto cansada; queria casar-se. Por causa de um montão de cartas de meia dúzia de fotografias e de outras tantas recordações, por causa deste cansaço, decidira que, na próxima vez que estivesse com Gordon, as suas relações iriam mudar. Diria qualquer coisa que as faria mudar. E seria nessa noite. Era a sua noite. Todas as noites eram suas.
Nesta altura os seus pensamentos foram interrompidos por um solene estudante do penúltimo ano, de olhar magoado e um ar de formalismo constrangido, que se apresentou à frente dela e se curvou até um ângulo desusado. Era o homem com' quem ela viera Peter Himmel. Era alto e excêntrico, com óculos d~ aros de osso e um aspecto de atraente extravagância.
