De repente Peter alcançou um prato da mesa ao lado e, apanhando uma mão-cheia de picado, atirou-a ao ar. Desceu numa lânguida parábola em jeito de floco de neve sobre as cabeças dos que estavam próximos.
- Eh, acalme-se!
- Ponham-no lá fora!
- Senta-te, Peter.
- Acaba lá com isso!
Peter riu-se e fez uma vénia.
- Obrigado pelos vossos amáveis aplausos, senhoras e cavalheiros. Se alguém me emprestar mais picado e um chapéu alto continuaremos com a representação.
O segurança aproximou-se.
- Tem de se ir embora - disse a Peter.
- Co'os diabos, não!
- É um amigo meu - disse Dean indignado.
Juntou-se uma multidão de criados. - Ponham-no lá fora!
- É melhor ires, Peter.
Houve uma pequena luta e os dois foram encaminhados e empurrados para a porta.
- Tenho um chapéu e um casaco! - gritou Peter.
- Bom, vá buscá-los e é depressa!
O segurança soltou Peter que, adoptando um ar ridículo de grande astúcia, imediatamente correu para a outra mesa, desatou a rir parvamente e fez um gesto de troça, com o polegar no nariz, para os desesperados criados.
- Imaginem que vou esperar um bocadinho mais - anunciou.
Começou a caçada. Quatro criados foram por um lado e quatro por outro. Dean agarrou dois pelo casaco e surgiu uma segunda luta antes de a perseguição a Peter ter terminado. Foi finalmente manietado, depois de ter virado um açucareiro e várias chávenas de café. Na caixa houve nova discussão, porque Peter queria comprar outro prato de picado para o atirar ao polícia.
Mas a agitação produzida pela saída dele foi devidamente abafada por outro fenómeno que provocou olhares de admiração e um prolongado e involuntário «Oh-h-h!» em todos os que estavam no restaurante.
O grande vidro da porta da frente revestira-se de um azul cremoso profundo, a cor do luar de Maxfield Parrish, um azul que parecia comprimir a vidraça como que para entrar no restaurante.