A Década Perdida - Cap. 1: O PRIMEIRO DE MAIO Pág. 6 / 182

- Tentei um pouco, mas o que faço não é perfeito. Eu tenho talento, Phil; sou capaz de desenhar, mas o pior é que não sei como. Devia ir para uma escola de belas-artes mas não tenho dinheiro para isso. E há cerca de uma semana as coisas entraram em crise. Mesmo quando eu já estava no meu último dólar, a rapariga começou a chatear-me. Quer dinheiro; diz que me faz a vida negra se não lho der.

- E pode fazer?

- Receio bem que sim. Essa é uma das razões por que perdi o emprego: estava sempre a telefonar-me para lá e isso foi a última gota de água no copo. Tem uma carta escrita para mandar à minha família. Tramou-me, ora se tramou! Tenho que arranjar dinheiro para lhe dar.

Fez-se um silêncio incómodo. Gordon continuava deitado com as mãos crispadas.

- Estou perdido - continuou com a voz a tremer. - Estou meio doido, Phil. Se não tivesse sabido que vinhas cá acho que me tinha matado. Quero que me emprestes trezentos dólares.

As mãos de Dean, que tinham estado a dar palmadinhas nos tornozelos nus, aquietaram-se subitamente - e a curiosa incerteza que pairava entre os dois tornou-se tensa e constrangida.

Passado um segundo, Gordon continuou.

- Já pedi tanto dinheiro à família que tenho vergonha de pedir mais.

Dean ainda não respondeu.

- A Jewel diz que precisa de duzentos dólares.

- Manda-a àquele sítio.

- Pois é, parece fácil, mas ela tem uma data de cartas estúpidas que lhe escrevi. Infelizmente não é a pessoa inofensiva que se esperaria.

Dean fez uma expressão de repugnância.

- Não posso suportar esse género de mulheres.

Devias ter-te afastado.

- Bem sei - admitiu Gordon com resignação.

- Tens de ver as coisas como elas são. Se não tens dinheiro, tens de trabalhar e afastar-te das mulheres.





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