O Processo - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 111 / 183

K deu um passo em frente, mas o subgerente disse: «Obrigado, já a encontrei», e, levando consigo uma enorme pilha de documentos que obviamente continha não sã a cópia do contrato mas também muitos outros papéis, regressou ao seu gabinete.

«Não tenho o estofo dele», disse K. para os seus botões, «mas, logo que as minhas dificuldades pessoais fiquem resolvidas, ele será o primeiro a senti-lo e fá-lo-ei sofrer também.;» Um tanto acalmado por estes pensamentos, K, deu as suas instruções ao continuo, que há muito tempo conservava aberta a porta do corredor, a fim de informar o director, na altura oportuna, de que ele tinha saldo em serviço, e em seguida, exaltado com a ideia de poder devotar-se inteiramente ao seu processo por algum tempo, saiu do Banco.

Tomou imediatamente um carro para a direcção onde o pintor vivia, num subúrbio situado quase no extremo da cidade diametralmente oposto ao das repartições do tribunal. Era uma parte ainda mais pobre do que a do outro subúrbio, as casas eram ainda mais escuras, as ruas repletas de lixo lamacento, que lentamente se ia misturando com a neve derretida. Na casa onde o pintor vivia, apenas metade da grande porta dupla estava aberta e, por baixo da outra metade, na alvenaria junto ao chão, havia um buraco do qual, à medida que K. se aproximava, ia saindo um horrível liquido amarelo, fumegante, donde alguns ratos se escapavam para dentro do canal contíguo. Ao fundo das escadas, um menino gritava com o rosto encostado ao chão. mas mal se conseguiam ouvir os seus gritos por causa do barulho ensurdecedor que vinha da oficina de um latoeiro situada no outro lado da entrada. A porta da oficina estava aberta; três aprendizes encontravam-se colocados à volta de um objecto no qual batiam com os seus martelos. Uma grande folha de zinco que estava pendurada na parede reflectia uma luz pálida que incidia no meio de dois dos aprendizes e lhes iluminava os rostos e os aventais. K. apenas deu uma olhadela a tudo isto, pois desejava despachar-se dali o mais depressa possível, tencionando fazer ao pintor umas quantas perguntas apenas para o sondar e regressar imediatamente ao Banco. Se ele tivesse sorte nesta visita, o seu trabalho no Banco, durante o resto do dia, só beneficiaria com isso.





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