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Capítulo 10: Capítulo 10

Página 183

Quando o encontrou, fez sinal e o companheiro conduziu K. até lá. Era um lugar próximo do lado escarpado, onde havia um monte de pedras soltas. Os dois sentaram K. no chão, apoiaram-no contra o monte de pedras e colocaram a cabeça sobre ele. Todavia, apesar de todo o trabalho que haviam tido e de toda a boa vontade de K., a sua posição continuava forçada e pouco natural. Assim, um deles pediu ao outro que o deixasse ser ele a dispor K., se bem que, mesmo assim, nada resultasse. Finalmente, deixaram K. numa posição que não era de maneira nenhuma a melhor mesmo entre as posições que já haviam experimentado. Então, um deles abriu a sua sobrecasaca e, de uma bainha pendurada num cinto em torno do colete, retirou uma faca de cortador, de dois gumes, fina e comprida, levantou-a e verificou os gumes à luz da Lua. Uma vez mais, a odiosa cerimónia começou, o primeiro entregando a faca ao segundo, por sobre a cabeça de K., e o segundo devolvendo-a ao primeiro, também por sobre a cabeça de K. K. percebia agora claramente que se esperava que ele próprio agarrasse na faca, já que esta passava de uma mão para a outra por cima da sua cabeça, e a espetasse no seu próprio peito Contudo, não procedeu assim, limitando-se a voltar a cabeça, que ainda se conservava livre, e a olhar em redor de si. Ele não podia mostrar-se à altura da situação, não podia aliviar os funcionários de todas as suas tarefas; a responsabilidade deste seu último fracasso pertencia-lhe inteiramente, dado que não conseguira poupar a energia necessária para cumprir a tarefa O seu olhar incidiu sobre o andar superior da casa situada junto à pedreira Com o bruxulear de uma luz aumentando, os batentes de uma janela abriram-se de repente; uma figura humana, vaga e imaterial àquela distancia e àquela altura, inclinou-se abruptamente para a frente e estendeu ambos os braços ainda mais. Quem seria? Um amigo? Um bom homem? Seria alguém que dele se compadecia? Alguém que o queria ajudar? Seria apenas uma pessoa? Ou seria a humanidade? Estaria a ajuda à mão? Haveria argumentos a seu favor que tivessem sido negligenciados? Com certeza que havia. A lógica é sem dúvida inabalável, mas não pode opor-se a um homem que queria continuar a viver Onde estaria o juiz que ele nunca chegou a conhecer? Onde estava o Supremo Tribunal, onde nunca tinha penetrado? Levantou as mãos e estendeu todos os seus dedos.

Mas as mãos de um dos homens estavam já colocadas na garganta de K" enquanto o outro enterrava a faca bem fundo no seu coração e a fazia rodar duas vezes. Com a vista a falhar, K. ainda pôde ver os dois homens, mesmo à frente dele, face contra face, contemplando o acto final. «Tal como um cão!», disse ele; era como se esta vergonha devesse sobreviver-lhe.

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pág. 183 (Capítulo 10)

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 183

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179