O Processo - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 128 / 183

«Assim. apenas como pró-forma, de tempos a tempos deve mostrar-se uma com actividade, devem tomar-se certas medidas, o réu será interrogado, serão reunidas as provas, etc. É que o processo deve manter-se sempre em movimento, se bem que dentro do pequeno círculo a que foi artificialmente limitado. Isto provoca naturalmente no acusado um ocasional desconforto, mas não se pense que é um desconforto demasiado. Como tudo isto é uma formalidade, os interrogatórios, por exemplo, são curtos; se o senhor não dispõe de tempo nem de disposição para se apresentar, tem apenas de pedir desculpa; alguns juízes até possibilitam a marcação das entrevada tas com muita antecedência e tudo o que é necessário para o efeito é um reconhecimento formal do seu status como réu, comparecendo de tempos a tempos perante o seu juiz.» O pintor ainda não tinha acabado de dizer estas últimas palavras e já K. se havia levantado com o casaco no braço. «Ele já se levantou», ouviu-se gritar por detrás da porta. «Já se vai embora?», perguntou o pintor, que se levantara também. «Estou convencido de que é devido à falta de ar aqui dentro que o senhor se retira. Lamento imenso, pois unha bastante mais para lhe dizer. Tive de me expressar muito resumidamente. No entanto, espero que as minhas explicações tenham sido bastante claras.» «Oh, sim», disse K., a quem já doía a cabeça pelo esforço que fizera a escutá-lo. Apesar de K. ter confirmado a clareza das explicações do pintor, este voltou novamente ao assunto, como se preteri desse dirigir-lhe uma última palavra de conforto: «Ambos os métodos possuem em comum o facto de impedir que o réu seja condenado.» «Mas também evitam a absolvição real», respondeu K. em voz baixa, ao mesmo tempo envergonhado por ter mostrado a sua perspicácia. «Esse é o nó do problema», disse rapidamente o pintor. K. estendeu a mão para o seu sobretudo, mas sem estar ainda resolvido a vestir o casaco. Preferia pegar neles juntos como numa trouxa e correr para fora, para o ar livre. Mesmo ao lembrar-se das raparigas, não conseguia vestir aquelas duas peças, ainda que as suas vozes anunciassem antecipadamente que ele estava a fazê-lo. O pintor estava ansioso por descobrir quais eram as disposições de K, pelo que continuou: «Presumo que o senhor ainda não tomou nenhuma decisão relativamente às minhas sugestões. Está certo. Com efeito, eu tê-lo-ia aconselhado a não o fazer se o senhor houvesse tentado tomar uma deliberação imediata. É preciso ser-se muito miudinho para distinguir as vantagens das desvantagens. Deve pesar tudo muito cuidadosamente. Por outro lado, também não deve desperdiçar muito tempo.» «Voltarei brevemente», respondeu K. de súbito, tomando de um rasgo a resolução de vestir o casaco e colocando o sobretudo nos ombros para se apressar em direcção à porta, atrás da qual as raparigas imediatamente começaram a gritar.





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