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Capítulo 7: Capítulo 7

Página 130

«O senhor hoje está com pressa e, de qualquer forma, voltaremos a contactar um com o outro. Devo dizer-lhe que fiquei muito contente por as minhas telas lhe terem agradado e vou agora colocar as outras de novo debaixo da cama. São todas elas charnecas, pois pintei dúzias delas nos meus tempos. Algumas pessoas não suportam estes temas por os acharem demasiado melancólicos, mas há sempre gente como o senhor que prefere telas melancólicas.» Nesta altura K. já não tinha cabeça para escutar estes discursos profissionais do insignificante pintor. «Embrulhe as telas», gritou ele, interrompendo Titorelli na sua tagarelice, «o meu contínuo virá busca-las amanhã.» «Não é necessário», volveu logo o pintor. «Julgo que lhe arranjarei um portador que irá consigo agora e as levará. Por fim, conseguiu chegar à porta e abri-la. «Não tenha receio de pôr os pés em cima da cama», disse ele, «toda a gente que aqui vem faz o mesmo.. K, não teria hesitado em fazê-lo mesmo sem convite e já tinha efectivamente colocado um pé justamente a meio do edredão de penas quando olhou para fora através da porta aberta e encolheu o pé de novo. «Mas o que é isto?», perguntou ele ao pintor. «Com o que é que está admirado?», volveu o pintor, por sua vez também admirado. «São as repartições do tribunal. Não sabia que há aqui repartições do tribunal? Se há repartições do tribunal em quase todos os sótãos, por que razão havia este de ser uma excepção? O meu atelier pertence, na realidade, ao tribunal, mas este colocou-o à minha disposição.» Não tinha sido tanto a descoberta das repartições do tribunal que havia surpreendido K. Ele estava muito mais surpreendido consigo próprio por causa da sua completa ignorância de tudo o que se relacionava como tribunal. Ele havia aceitado como um princípio fundamental para um réu o estar sempre acautelado e nunca se deixar apanhar desprevenido, nunca deixar que os seus olhos se desviassem irreflectidamente para a direita se o juiz assomava do lado esquerdo — e era este princípio que ele transgredia continuamente. Estendia-se à sua frente um comprido corredor do qual vinha um ar que, comparado com o do atelier, fazia este parecer refrescante. Havia bancos colocados de cada lado do corredor, exactamente como no corredor das repartições nas quais se estava a tratar do processo de K Parecia-lhe então que existiam regulamentos precisos para a disposição interna destas repartições. Nesse momento, não se via um grande vaivém de clientes. Um homem encontrava-se meio sentado, meio reclinado num banco, com o rosto tapado pelas mãos, parecendo estar a dormir; um outro homem permanecia em pé na semiescuridão, ao fundo do corredor.

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 130

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179