O Processo - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 135 / 183

Leni sorriu também logo em seguida e, tirando partido da distracção momentânea de K., pendurou-se-lhe no braço, segredando-lhe: «Deixa-o agora sozinho, podes ver bem que espécie de pessoa é. Tenho-lhe dispensado uma certa amizade, porque é um dos melhores clientes do advogado, mas esta é a única razão. E a respeito de ti? Queres consultar hoje o doutor? Ele hoje não se encontra nada bem; de qualquer maneira, se quiseres digo-lhe que estás aqui. Certamente que vais passar a noite aqui comigo. Já foi há tanto tempo que aqui estiveste que até o advogado já me perguntou por ti. Não descures o teu processo, porque essa atitude a nada conduzirá! Tenho também algumas informações para te dar, coisas que descobri. Primeiro que tudo, tira o casaco.» Ela ajudou-o a despi-lo, pegou no chapéu, que ele segurava na mão, correu até ao vestíbulo de entrada para pendurar e correu de novo para a cozinha para vigiar a sopa. «Devo primeiro comunicar-lhe que chegaste ou dar-lhe a sopa?» «Comunica-lhe primeiro que estou aqui», disse K. Sentia-se irritado, pois inicialmente tencionava discutir primeiro o caso com Leni, especialmente o ponto da dispensa do advogado, mas o facto de o comerciante se encontrar ali estragou tudo. No entanto, de novo lhe ocorreu que os seus problemas eram demasiadamente importantes para permitir que um insignificante comerciante tivesse directa interferência neles e por isso chamou Leni, que já se encontrava a caminho, no corredor. «Não, deixe-o comer primeiro a sopa», disse-lhe ele, «ela dar-lhe-á forças para aguentar a entrevista comigo e ele bem necessita delas.» «Então, o senhor é também um dos clientes do advogado», perguntou, pausadamente, o comerciante do seu cantinho, como se estivesse a fazer uma afirmação. O seu comentário foi mal recebido. «O que tem este assunto a ver consigo?», perguntou K., tendo Leni interposto: «Cala-te.» Leni disse depois a K: «Bem, então irei levar-lhe primeiro a sopa». e deitou a sopa numa tigela. «Corremos é o risco de ele adormecer imediatamente, pois deixa-se sempre dormir após a refeição.» «O que tenho para lhe dizer conservá-lo-á bem acordado», disse K., que queria fazer ver que a sua entrevista com o advogado prometia ser um pouco morosa; ele queria que Leni lhe fizesse algumas perguntas e em seguida pedir-lhe-ia o seu conselho. Contudo, Leni apenas seguiu à risca as ordens recebidas. Quando passava por ele com a tigela da sopa, tocou-lhe com o cotovelo propositadamente e segredou-lhe: «Dir-lhe-ei que aqui estás logo que ele acabe de comer a sopa, de modo que te possa ter aqui de volta o mais depressa possível.» «Anda», ordenou K., «anda para diante.»





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