Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 4: Capítulo 4

Página 64

Mais ainda, descobriu que, além disto, Fraulein Montag estava a jogar com um pau de dois bicos. Primeiro, exagerara a importância da ligação de K. com Fraulein Bürstner, exagerara ainda a importância do encontro que ele havia solicitado e tentara, simultaneamente, conduzir o assunto de molde a fazer parecer que era K. quem estava a exagerar. Ela havia de se convencer de que estava enganada, pois K. não queria exagerar coisa nenhuma, sabia que Frãulein Bürstner era uma vulgaríssima dactilografazinha que não conseguiria resistir-lhe por mais tempo. Ao chegar a esta conclusão, deixou deliberadamente de parte o que Frau Grubach lhe havia contado acerca de Fraulein Bürstner. Estava a pensar em tudo isto quando abandonou a sala com uma breve palavra de despedida. Ia direito ao seu quarto, mas um risinho de Frau Montag, vindo da sala de jantar, atrás dele, fê-lo pensar que poderia fazer aos dois uma surpresa. Olhou à volta e escutou para se certificar de que ninguém o interromperia dos quartos contíguos; tudo estava silencioso, nada mais se ouvia senão um murmúrio de vozes vindo da sala de jantar e a de Frau Grubach vinda do corredor que ligava à cozinha. A oportunidade pareceu-lhe excelente, de modo que K. se aproximou da porta do quarto de Fraulein Bürstner e bateu suavemente. Como não ouviu resposta, bateu novamente, mas em vão. Estaria ela a dormir? Ou estaria realmente indisposta? Ou estaria a fazer de conta que não estava, calculando que era K. quem batia tão suavemente? K. achou que ela estaria a fingir e bateu ainda com mais força e, por fim, como o seu bater não obtivesse resultado, entreabriu cautelosamente a porta com a sensação de que estava a cometer um acto que não devia e, mais ainda, mais inútil que errado. Não se encontrava ninguém no quarto. Além disso, o quarto não parecia o mesmo que K. tinha visto antes. Dispostas lado a lado, junto à parede, estavam duas camas, perto da janela três cadeiras apinhadas de vestidos e roupas interiores, e a porta do guarda-vestidos estava aberta. Aparentemente, Fraulein Bürstner saíra, deixando Fraulein Montag a representar o seu papel na sala de jantar. K. não ficou muito surpreendido, pois não esperava apanhar [ao facilmente Fraulein Bürstner; esta tentativa fizera-a ele, sim, mais para irritar Fraulein Montag. Contudo, o choque foi tanto maior quanto, ao fechar a porta novamente, se lhe deparou Fraulein Montag e o capitão a conversarem à porta da sala de jantar. Sabe-se lá se eles ali estariam há muito tempo e, escrupulosamente, evitavam mostrar que tinham estado a observá-lo, falando em voz baixa, mas seguindo os seus movimentos com o olhar vago de quem está conversando e distraidamente olha para as pessoas que passam. Todavia, K. sentia de tal modo o peso daqueles olhos fixos em si que, colado à parede, se dirigiu o mais depressa possível para o seu quarto.

<< Página Anterior

pág. 64 (Capítulo 4)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 64

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179