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Capítulo 4: Capítulo 4

Página 63

Depois dessa sua observação, e para lhe falar francamente, a questão é esta: o senhor pediu à minha amiga que entrasse em contacto consigo ou por carta ou pessoalmente. Agora, pelo menos é o que presumo, a minha amiga sabe qual seria o tema da conversa e está, por conseguinte, convencida, por razões que desconheço, de que não traria beneficio a ninguém o facto de esse encontro realmente se realizar. Para dizer a verdade, só ontem é que ela me falou do assunto e apenas de passagem; disse-me, entre outras coisas, que o senhor não devia atribuir muita importância a este encontro, visto que só por acaso deve ter tido esta ideia e que, mesmo sem uma explicação específica, o senhor cedo se aperceberia do disparate de todo o assunto, se ainda não tivesse chegado a esta conclusão. Em resposta, considerei que isso era possível, mas que achava aconselhável, no caso de o assunto ter de ser esclarecido, que o senhor recebesse uma resposta explicativa. Ofereci-me como intermediária e, depois de alguma hesitação, a minha amiga concordou. Espero, contudo, ter ido também ao encontro dos seus desejos, visto que a mínima incerteza, mesmo no mais insignificante assunto, se traduz sempre numa preocupação e quando, tal como neste caso, pode ser facilmente dissipada, é preferível fazê-lo o mais depressa possível.» «Obrigado», respondeu K., que se levantou lentamente, olhou para Fraulein Montag, depois para a mesa e em seguida através da janela — o sol batia na casa da frente — e se encaminhou para a porta. Fraulein Montag seguiu-o durante alguns momentos, como se não confiasse inteiramente nele. Contudo, à porta, tiveram ambos de recuar, porque o capitão Lanz, entretanto, a abrira para entrar. Era a primeira vez que K. o via [ao de perto. Era alto, com pouco mais de 40 anos, de rosto moreno e carnudo. Fez uma pequena vénia, incluindo nela não só K. como Fraulein Montag, e em seguida dirigiu-se a ela, beijando-lhe respeitosamente a mão. Os seus movimentos eram vagarosos. A sua gentileza para com Fraulein Montag estava em absoluto contraste com o tratamento que K. lhe dispensara. De qualquer maneira, Fraulein Montag não se mostrou ofendida com K., pois pareceu-lhe que desejava apresentá-lo ao capitão. Evidentemente que K. não estava interessado nessa apresentação, não estava com disposição para gentilezas em relação quer ao capitão quer a Fraulein Montag, e o beija-mão, inclusivamente, tinha, a seu ver, tornado ambos cúmplices na procura de, sob uma capa da maior amabilidade e altruísmo, tornar inacessível o seu contacto com Fraulein Bürstner.

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 63

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179