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Capítulo 5: Capítulo 5

Página 66

As suas boas camisas constituíram uma tentação para nós, mas é claro que os guardas não estão autorizados a proceder dessa maneira; foi mal feito, é certo, mas olhe que é tradição que a roupa branca dos prisioneiros constitua os emolumentos dos guardas, tem sido sempre assim, acredite em mim; e é compreensível também, tanto mais que essas coisas não devem ter importância nenhuma para um homem que tem a pouca sorte de ser preso. Se, no entanto, alguém ventila o assunto em público, é aplicada aos guardas a respectiva punição.» Não fazia ideia nenhuma disso e tão-pouco pedi que vos castigassem; apenas defendi um princípio.» «Franz», disse Willem, virando-se para o outro guarda, «não te disse que este senhor não exigiu que fôssemos castigados? Vê que ele nem sequer sabia que devíamos ser castigados.» «Não se deixe levar pelo que eles dizem», observou o terceiro homem a K., «o castigo é tão justo quanto inevitável.» «Não oiça o que ele diz», suplicou Willem, interrompendo-se para encostar à boca a mão na qual acabara de levar com o açoite «Estamos a ser castigados apenas porque o senhor nos denunciou; se o não tivesse feito, nada nos aconteceria, ainda que descobrissem o que tínhamos feito. Chama a isto justiça? Nós os dois, especialmente eu, temos uma longa folha de bons serviços como guardas... o senhor tem de concordar que, do ponto de vista oficial, o guardámos muito bem... tínhamos umas boas perspectivas de subir de categoria e muito em breve seríamos promovidos a algozes, tal como este homem, que teve a sorte de jamais alguém haver participado dele, até porque uma reclamação desta natureza surge muito raramente. E agora está tudo perdido, senhor, a nossa carreira chegou ao fim, tendo nós, daqui em diante, de executar trabalhos inferiores aos que competem a um guarda, além de sermos açoitados, o que é terrivelmente doloroso.» «Pode esse açoite causar assim uma dor tão grande?», inquiriu K., examinando o açoite que o homem brandia no ar diante dele. «Teremos primeiro de despir todas as roupas», disse Willem. «Ali, sim», exclamou K., olhando mais atentamente para o algoz, que estava bronzeado como um marinheiro e tinha um rosto sadio e brutal. «Não haverá maneira de livrar estes dois homens de serem acoitados?», perguntou K. «Não», respondeu o homem, sorrindo e abanando a cabeça. «Dispam-se», ordenou ele aos guardas. Então, dirigindo-se a K., disse: «O senhor não deve acreditar em tudo o que eles contam, porque o medo que sentem do açoite é tão grande que até já perderam o juízo. Por exemplo, tudo o que este aqui», e apontou para Willem, «diz acerca da sua carreira é simplesmente absurdo.

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Capa do livro O Processo
Páginas: 183
Página atual: 66

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 25
Capítulo 3 39
Capítulo 4 59
Capítulo 5 65
Capítulo 6 71
Capítulo 7 88
Capítulo 8 132
Capítulo 9 158
Capítulo 10 179