A filosofia grega enquanto a decadência dos instintos antigos; Tucídides enquanto a grande soma, a última revelação daquela facticidade forte, rigorosa, dura, que residia nos instintos dos antigos helenos. A coragem frente à realidade diferencia por fim tais naturezas como Tucídides e Platão: Platão é um covarde diante da realidade - consequentemente, ele se refugia no ideal; Tucídides tem a si mesmo sob controle, por conseguinte mantém também as coisas sob controle...
3.
Arrepiar-se diante dos gregos em virtude de suas "belas almas", suas "medidas plenas" e outras perfeições; admirar mais ou menos neles a calma em meio à grandeza, a meditação ideal, a elevada ingenuidade. Contra esta "elevada ingenuidade", em última instância contra uma niaiserie allemande [tolice alemã], fui protegido pelo psicólogo, que trazia em mim. Vi seu instinto maximamente intenso, a vontade de potência, os vi tremer frente à violência indómita deste impulso - vi todas as suas instituições crescerem a partir de regras e medidas de segurança, para se assegurarem uns em relação aos outros contra seu material explosivo intrínseco. A monstruosa tensão na interioridade descarregou-se então em uma inimizade terrível e brutal contra a exterioridade: as comunidades citadinas dilaceraram-se entre si, para que os cidadãos de cada uma delas em particular pudesse encontrar paz diante de si mesmo. Tinha- se necessidade de ser forte: o perigo estava por perto - ele estava por toda parte à espreita. A corporeidade exuberantemente flexível, o realismo e o imoralismo temerários, que eram próprios aos helenos, foi uma necessidade, não uma "natureza".