O essencial permanece a facilidade da metamorfose, a incapacidade de não reagir (- similarmente a certos histéricos que, atendendo a todo e qualquer aceno, adentram todo e qualquer papel). É impossível para o homem dionisíaco não entender uma sugestão qualquer, ele não desconsidera nenhum sinal dos afetos, ele tem no grau mais elevado o instinto intelectivo e divinatório, assim como possui no grau mais elevado a arte da comunicação. Ele se insere em cada pele e em cada afeto: ele transforma-se constantemente. - A música, tal como a compreendemos hoje, é igualmente uma excitação e uma descarga conjunta dos afetos, mas, não obstante, apenas o que, sobrou de um mundo de expressão dos afetos muito mais pleno, um mero
residuum do histrionismo dionisíaco. Para a viabilização da música enquanto arte específica, imobilizou-se uma certa quantidade de sentidos, antes de tudo o sentido muscular (no mínimo relativamente: pois em certo grau todo ritmo ainda fala a nossos músculos): de modo que o homem não imita e apresenta mais imediatamente com seu corpo tudo que sente. Apesar disso, é este o estado normal propriamente dionisíaco, em todo caso o estado originário; a música é a especificação lentamente alcançada deste estado, em detrimento das faculdades que lhe são mais intimamente aparentadas.
11.
O ator, o mimo, o dançarino, o músico, o poeta lírico são fundamentalmente aparentados em seus instintos e são em si um, mas pouco a pouco vão se especializando e se separando um do outro - mesmo até a contradição. O poeta lírico foi quem permaneceu por mais tempo unido com o músico; o ator com o dançarino. O arquiteto não apresenta nem um estado dionisíaco, nem um apolíneo: aqui é o grande ato de vontade, a vontade, que remove montanhas, a embriaguez da grande vontade que possui o afã pela arte.