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Capítulo 12: Capítulo 12

Página 149
Nas reentrâncias do penhasco um número enorme de pombos fazia sua moradia. E em Lerida havia antigos edifícios em ruínas, em cujas cornijas muitos milhares de andorinhas construíram seus ninhos, de modo que de certa distância a forma dos mesmos assemelhava-se a um ornamento florido do período rococó. Era estranho perceber que por quase seis meses eu não tivera olhos para ver coisas assim. Tendo no bolso os documentos de baixa, eu me sentia novamente um Ser humano, e também um tanto turista. Sentia que estava realmente na Espanha, país que por toda a vida desejara visitar. Nas ruas menores e calmas de Lerida e Barbastro, pensei ter um vislumbre, um tipo de percepção distante daquela Espanha que está presente na imaginação de todos. Cordilheiras brancas, rebanhos de cabras, masmorras da Inquisição, palácios mouros, tropas sinuosas formadas por mulas, oliveiras acinzentadas e grupos de limoeiros, moças com mantilhas negras, os vinhos de Málaga e Alicante, catedrais, cardeais, corridas de touros, ciganos, serenatas - em suma, a Espanha. De toda a Europa, fora o país que parecera apoderar-se mais de minha imaginação. Era uma pena que quando finalmente conseguisse chegar lá, visse apenas aquele canto ao nordeste, em meio a uma guerra confusa e durante o inverno na maior parte do tempo.

Era tarde quando voltei a Barcelona, e não encontrei táxis. Não adiantava tentar chegar ao Sanatório Maurín, que se situava fora da cidade, de modo que parti para o Hotel Continental, parando no caminho para jantar. Lembro-me da conversa que tive com um garçom bastante paternal a respeito dos garrafões de carvalho, envoltos em cobre, nos quais serviam o vinho. Disse-lhe que gostaria de comprar alguns para levar comigo de volta à Inglaterra, e ele mostrou-se compreensivo.

- Sim, são muito bonitos, não é mesmo? Mas é impossível comprar hoje em dia. Ninguém mais os está fabricando, ninguém mais está fabricando coisa alguma. Esta guerra... Que lástima!

Concordamos em que a guerra era uma lástima, e mais uma vez senti-me como turista. Ele perguntou gentilmente se eu gostara da Espanha, se voltaria. Ah, sim! Eu voltaria à Espanha. A qualidade tranquila da conversa continua em minha lembrança, devido ao que sucedeu logo depois.

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pág. 149 (Capítulo 12)

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 149

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173