Quando cheguei ao hotel minha esposa estava sentada no salão de espera. Levantou-se e caminhou para mim com o que pareceu naturalidade, passou o braço por meu pescoço e com doce sorriso destinado a ser visto pelas outras pessoas presentes, murmurou em meu ouvido:
- Dê o fora!
- O quê?
- Saia daqui imediatamente!
- O quê?
- Não fique ai parado! Precisa sair agora mesmo!
- Por quê? Que está dizendo?
Ela já me pegara pelo braço e seguia comigo, levando-me para a escada. Quando descíamos, encontramos um francês - cujo nome não vou revelar, pois embora não tivesse qualquer ligação com o P.O.U.M. foi bom amigo nosso durante todas as dificuldades. Ele me encarou com expressão de preocupação.
- Escute! Não deve vir aqui. Saia depressa e esconda-se antes que eles telefonem para a polícia.
E mais! Ao pé da escada um dos empregados do hotel, membro do P.O.U.M. (sem a gerência saber disso, ao que presumo) saiu furtivamente do elevador e me disse, em inglês estropiado, para sair dali. Até então eu não compreendera o que acontecia.
- De que diabo estão falando? - indaguei, assim que chegamos à calçada.
- Você não soube?
- Não. Soube do quê? Soube de nada!
- O POUM foi extinto. Eles tomaram os edifícios e praticamente todos estão presos. Dizem que já começaram a fuzilar alguns.
Então era isso! Precisávamos encontrar um lugar para conversar. Todos os grandes cafés na Ramblas estavam lotados de policiais, mas encontramos um café sossegado numa rua lateral. Minha esposa explicou o que ocorrera enquanto eu estivera fora da cidade.
A 15 de junho a polícia efetuara a prisão repentina de Andrés Nin, em seu próprio gabinete, e na mesma noite invadira o Hotel Falcón, prendendo todos os presentes, em sua maioria milicianos em licença. O lugar fora imediatamente convertido em prisão, e não tardou para que regurgitasse de prisioneiros de todos os tipos. No dia seguinte o P.O.U.M. fora declarado ilegal e todos os seus escritórios e centros, livrarias, sanatórios, centros de Ajuda Vermelha e o mais eram tomados. Enquanto isso, a polícia prendia todos que encontrasse e soubesse terem qualquer ligação com o P.O. U. M. Em questão de dois dias os quarenta membros da Comissão Executiva, ou quase todos, estavam presos. Talvez um ou dois houvessem escapado e procurado esconderijo, mas a polícia adotava o truque (muito utilizado por ambos os lados, nessa guerra) de prender a esposa do cidadão como refém, caso ele desaparecesse.