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Capítulo 5: Capítulo 5

Página 43
Da Inglaterra eram enviados constantemente pacotes para os combatentes, mas nunca chegavam. Comida, roupas, cigarros, tudo era recusado pelo correio, ou então confiscado na França. Por curioso que pareça, a única firma que conseguia enviar pacotes de chá - e até mesmo uma lata de biscoitos, em certa ocasião memorável - era a Army and Navy Stores (Intendência do Exército e Marinha). Pobre e velho Exército, pobre e velha Marinha! Cumpriam nobremente o dever fazendo essas remessas, mas talvez se sentissem melhor se elas fossem para o lado franquista das barricadas. A escassez de fumo era o pior de tudo. De início recebíamos um maço de cigarros por dia, depois isso fora reduzido a oito cigarros diários, e depois a cinco. Finalmente tivemos dez dias pavorosos, nos quais não se fez qualquer distribuição de fumo. Pela primeira vez eu via na Espanha o que pode ser visto a qualquer dia em Londres - gente apanhando guimbas no chão.

No final de março fiquei com uma das mãos infecionada e foi preciso rasgá-la e usar tipóia. Fui para um hospital, mas não valia a pena mandar-me até Sietamo por tão pouco, de modo que fiquei naquilo a que chamavam hospital, em Monflorite, e que era apenas um posto de triagem para as baixas. Fiquei ali dez dias, parte desse tempo em leito. Os praticantes (auxiliares de hospital) roubaram praticamente todos os objetos que eu possuía, inclusive minha máquina fotográfica e todas as fotografias já tiradas. Na linha de frente todos roubavam, sendo isso o efeito inevitável da escassez, mas no hospital encontravam-se os piores ladrões. Mais tarde, no hospital em Barcelona, um norte-americano que viera juntar-se à Coluna Internacional em navio que fora torpedeado por submarino italiano, contou-me como fora levado para a costa ferido, e como os padioleiros furtaram seu relógio de pulso, quando o carregavam até à ambulância.

Enquanto meu braço esteve na tipóia passei alguns dias deliciosos, percorrendo os arredores. Monflorite era o aglomerado comum de casas feitas de barro e pedra, com becos estreitos e tortuosos que foram batidos pelos caminhões até se transformarem em coisas semelhantes às crateras da lua. A igreja fora bastante abalada, mas era utilizada como depósito militar. Em toda a vizinhança havia apenas duas casas de fazenda de dimensões maiores, Torre Lorenzo e Torre Fabián, e somente duas construções realmente grandes, que com certeza eram as residências dos latifundiários, senhores do campo. Podia-se ver sua riqueza refletida nas choças miseráveis dos camponeses.

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 43

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173