Homenagem à Catalunha - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 48 / 193

No dia seguinte aumentava esse número, naturalmente, Cada homem tinha uma tarefa a cumprir, até mesmo os auxiliares da cozinha, que chegaram de repente, quando o trabalho estava feito, trazendo baldes cheios de vinho temperado com brandy.

Depois disso veio o raiar da aurora e os fascistas descobriram que estávamos lá. O quadrado branco da Casa Francesa, embora a duzentos metros de distância, parecia mais alto do que nós, e as metralhadoras que exibia nas janelas de cima, protegidas por sacos de areia, davam a impressão de estar mirando diretamente para baixo, visando nossa trincheira. Ficamos todos ali, a olhar aquilo, imaginando o motivo pelo qual os fascistas não nos viam. Logo em seguida veio uma rajada perigosa de balas, todos se puseram de joelhos e começaram a cavar freneticamente, aprofundando a trincheira e fazendo pequenos abrigos laterais. Meu braço ainda estava em ataduras, eu não podia cavar, e por isso passei a maior parte do dia lendo uma novela policial, intitulada The Missing Moneydender ("O agiota desaparecido"). Não me recordo do enredo, mas sei muito bem qual era o meu sentimento quando lia, e lembro-me também da argila umedecida no fundo da trincheira abaixo de mim, a mudança constante de pernas para tirá-las da passagem de homens que iam e vinham apressados, os estampidos de projéteis a um ou dois palmos acima da cabeça. Thomas Parker levou uma bala na parte superior da coxa e isso, em suas próprias palavras, ia muito além do que podia desejar para merecer uma condecoração. As baixas ocorriam por toda a linha, mas não se comparavam ao que ocorreria se os fascistas nos apanhassem durante a noite, quando estávamos avançando. Mais tarde um desertor viria contar que cinco sentinelas fascistas tinham sido fuziladas por negligência. Até mesmo agora eles poderiam nos massacrar, caso tivessem a iniciativa de trazer alguns morteiros para a linha. Foi um trabalho difícil o de carregar feridos pela trincheira apertada e cheia de gente. Vi um pobre-diabo, os culotes vermelhos de sangue, a estirar-se na liteira, arquejando em agonia. Era preciso carregar os feridos por grande distância, até dois quilômetros, pois mesmo onde havia estrada as ambulâncias não chegavam perto da linha. Quando chegavam perto demais os fascistas costumavam disparar os canhões sobre elas - o que era justificável, tendo em vista que nenhum dos lados tinha qualquer escrúpulo em utilizar ambulâncias para transportar munição.

E depois disso, na noite seguinte, veio a espera em Torre Fabián, onde aguardamos ordem para desferir um ataque, o que foi cancelado ao último instante pelo telégrafo sem fio.





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