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Capítulo 5: Capítulo 5

Página 49
No paiol onde ficamos esperando, o chão era uma capa fina de palha sobre camadas altas de ossos, tanto humanos quanto de vacas, tudo em mistura, e infestado de ratos. Aqueles animaizinhos sujos vinham em regimentos pelo chão, surgidos de todos os lados. Se há alguma coisa que eu deteste mais do que outra, é uni rato correndo por cima de mim na escuridão. Mas ainda assim tive a satisfação de acertar num deles um soco que o mandou pelos ares.

Em seguida veio a espera, a cinquenta ou sessenta metros do parapeito fascista, aguardando-se a ordem de atacar. Uma fila comprida de homens acocorados numa vala de irrigação, com as baionetas aparecendo pela beira e o branco dos olhos reluzindo na escuridão. Lá estavam Kopp e Benjamin acocorados atrás de nós, com um homem que trazia a bolsínha de estafeta do telégrafo sem fio presa ao ombro. No horizonte, para o ocidente, clarões róseos de canhões disparando e acompanhados, com intervalos de alguns segundos, por explosões enormes. E depois disso um ruído de batidas do sem-fio, e a ordem sussurrada, de que devíamos sair dali enquanto podíamos. Fizemos isso, mas não com suficiente rapidez. Doze pobres meninos da J.C.I. (a Liga da Juventude do P.O.U.M., correspondendo à J.S.U. do P.S.U.C.), que foram colocados a uns quarenta metros do parapeito fascista, foram apanhados pela madrugada e não conseguiram fugir. Tiveram de ficar ali o dia inteiro, tendo apenas punhados de grama para abrigar-se e os fascistas disparando contra eles sempre que se mexiam. Ao anoitecer sete estavam mortos, e os outros cinco conseguiram rastejar e afastar-se na escuridão.

Depois disso, e por muitas manhãs seguintes, ouvíamos o som dos ataques anarquistas no outro lado de Huesca. Era sempre o mesmo som. De repente, em alguma das primeiras horas do dia, vinha o estrondo inicial de muitas bombas explodindo simultaneamente - e mesmo à distância de quilômetros isso era um barulho diabólico e impressionante - e em seguida o estrondo ininterrupto de fuzis e metralhadoras disparando ao mesmo tempo, num som forte que se parecia, de modo curioso, ao rufar de tambores. Por graus a fuzilaria espalhava-se por todas as linhas que cercavam Huesca, e saiamos para a trincheira a fim de nos recostarmos sonolentamente no parapeito, enquanto um fogo irregular e sem sentido passava por cima.

Durante o dia os canhões faziam belo estrondo. Torre Fabián, que era agora nossa cozinha, foi atingida por fogo de artilharia e destruída em parte. É curioso que, quando estamos observando o fogo de artilharia em distância a salvo do mesmo, sempre queremos que o artilheiro acerte o alvo, mesmo que esse alvo contenha nosso jantar e o de alguns companheiros.

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 49

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173