A guerra tinha apenas seis meses, ou perto disso, quando o Governo espanhol foi forçado a recorrer à conscrição, o que seria natural numa guerra com outro país, mas parece anômalo numa guerra civil. Certamente isso se prendia ao desapontamento quanto às esperanças revolucionárias com que a guerra se iniciara. Os membros dos sindicatos, que se tinham formado em milícias e repelido os fascistas para Saragoça nas primeiras semanas de guerra fizeram-no principalmente por acreditarem estar lutando pelo controle por parte da classe trabalhadora, porém cada vez se tornava mais evidente que tal controle era uma causa perdida e a gente comum, em especial o proletariado urbano, que tem de engrossar as fileiras em qualquer guerra, civil ou exterior, não podia ser incriminada por demonstrar certa apatia. Ninguém queria perder a guerra, mas a maioria desejava mais era vê-la terminar. Notava-se isso por toda a parte e sempre ouvíamos o comentário perfuntório: "Esta guerra... coisa terrível, não é? Quando vai acabar?" As pessoas politicamente informadas davam muito mais atenção à luta intestina entre anarquistas e comunistas do que àquela contra Franco. Para a massa do povo, a escassez de gêneros alimentícios era o mais importante de tudo. A "linha de frente" se transformara em lugar remoto e mítico para onde os jovens desapareciam e não mais regressavam, ou reapareciam depois de três ou quatro meses, com os bolsos transbordando de dinheiro. (Os milicianos geralmente recebiam seus atrasados quando entravam em licença.) Os feridos, mesmo quando saltando com muletas, não recebiam qualquer consideração especial. Estar na milícia não era mais coisa em moda. As lojas e casas comerciais, que sempre constituem o barômetro do gosto público, demonstravam isso de modo bem claro. Quando estive em Barcelona pela primeira vez, por mais pobres e maltratadas que estivessem, elas se especializavam em equipamento para milicianos, Casquetes, jaquetas com zipper, cinturões San Browne, facas de caça, cantinas, coldres para revólveres, eram artigos exibidos em todas as vitrinas. Agora as lojas se mostravam muito mais elegantes, porém a guerra fora arremessada para o lado. Conforme descobriria mais tarde, ao comprar meu equipamento antes de voltar à linha de frente, algumas coisas de que muito se precisava eram bem difíceis de encontrar.
Enquanto isso, tivera lugar uma propaganda sistemática contra as milícias e a favor do Exército Popular. A situação, era bem curiosa. A partir de fevereiro todas as forças armadas foram, em teoria, incorporadas àquele exército e, no papel, as milícias foram reconstruídas de acordo com o modelo do mesmo, com tabelas diferenciais de soldo, patentes oficialmente publicadas, etc. etc.