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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 90
As vezes eu sentia apenas tédio, não prestava atenção ao ruído infernal, e passava horas lendo uma série de livros Penguin que, por sorte, comprara alguns dias antes; de outras, tinha plena consciência dos homens armados que me observavam a cinquenta metros de distância. Era um pouco como estar novamente nas trincheiras, e diversas vezes surpreendi-me, por força do hábito, a falar dos Guardas Civis como sendo "os fascistas". Em geral éramos uns seis lá em cima. Pusemos um homem em guarda para cada torre do observatório, e os demais ficavam sentados no telhado de chumbo por baixo, onde não havia qualquer proteção a não ser uma paliçada de pedra. Eu percebia muito bem que a qualquer momento os Guardas Civis podiam receber ordem, por telefone, para abrir fogo contra nós. Eles concordaram em avisar-nos antes, mas não se podia ter certeza de que cumprissem o acordo. Apenas uma vez, no entanto, pareceu que íamos ter barulho. Um dos Guardas Civis à nossa frente ajoelhou-se e começou a disparar pela barricada. Nessa ocasião eu estava de guarda no observatório, voltei o fuzil para ele e gritei:

- Ei! Não atire contra nós!

- O quê?

- Não atire para cá, ou atiraremos de volta!

- Não, não! Eu não estava atirando em vocês. Olhe! Lá em baixo!

Fez indicação com o fuzil, mostrando a rua lateral que passava pelo fundo de nosso edifício. Era verdade, lá estava um rapaz de macacão, de fuzil em punho, esgueirando-se pela esquina. Era evidente que acabara de disparar um tiro contra o Guarda Civil no telhado.

- Atirei contra ele. Ele atirou primeiro! (Acredito que fosse verdade.) - Não queremos atirar em vocês. Nós somos apenas trabalhadores, o mesmo que vocês!

Fez a saudação antifascista, a que correspondi, e gritei outra vez:

- Vocês ainda têm cerveja?

- Não, já acabou toda.

Naquele mesmo dia, sem qualquer motivo aparente, um homem no edifício da J.S.U., em outro ponto da rua, ergueu repentinamente o fuzil e disparou contra mim, que estava debruçado na janela. Talvez eu fosse um alvo tentador. Não respondi ao tiro, e embora ele estivesse a cem metros de distância, apenas, a bala passou tão longe que nem sequer atingiu o telhado do observatório. Como de costume, os padrões espanhóis de tiro ao alvo salvaram minha vida. Diversas vezes abriram fogo contra mim.

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 90

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173