O tiroteio infernal prosseguia sempre, mas até onde podia ver, e de tudo quanto ouvia, a luta era defensiva em ambos os lados. As pessoas simplesmente ficavam em seus edifícios ou atrás das barricadas, e abriam fogo sobre as que estavam no outro lado. A uns 800 metros de nós havia uma rua onde alguns dos escritórios principais da C.N.T. e U.G.T. ficavam quase exatamente em frente um do outro, e daquela direção era terrível o volume de estrondos. Passei na rua no dia seguinte ao do término da luta, e vi que as coberturas das vitrinas pareciam-se a peneiras. (A maioria dos comerciantes em Barcelona colara fitas de papel em todas suas vitrinas, de modo que quando atingidas por bala elas não se transformavam em montões de cacos de vidro.) As vezes a saraivada de fuzis e metralhadoras era pontilhada pela explosão das granadas de mão. E com intervalos longos, talvez umas doze vezes ao todo, havia explosões tremendas que, na ocasião, eu não sabia explicar.
Pareciam-se a bombas aéreas, mas isso era impossível, pois não havia aeroplanos. Mais tarde me disseram - e deve ser verdade - que agents provocateurs faziam detonar massas de explosivos a fim de aumentar a barulheira e o pânico. Não havia fogo de artilharia, entretanto. Eu estava atento a isso, pois se os canhões entrassem em cena isso queria dizer que a coisa começava a ficar séria (a artilharia representa o fator dominante em luta de ruas). Em seguida surgiram narrativas fantásticas nos jornais a respeito de baterias de canhões disparando nas ruas, mas ninguém soube indicar que edifício fora atingido por suas granadas. De qualquer forma, o som dos disparos de artilharia é inconfundível, quando se está acostumado a ele.
A comida escasseava. Com dificuldade e sob a cobertura da noite (pois os Guardas Civis estavam constantemente disparando sobre a Ramblas) os alimentos eram trazidos do Hotel Falcón para os quinze ou vinte milicianos que se encontravam no Edifício da Direção do P. O. U. M., mas a quantidade sempre se mostrava insuficiente, e tantos de nós quanto possível iam ao Hotel Continental fazer as refeições. O Continental fora "coletivizado" pelo Generalato e não, como acontecera à maioria dos hotéis, pela C.N.T. ou U. G. T., sendo encarado como terreno neutro. Mal começara a luta e o hotel se enchera até à beira com a mais extraordinária coleção de pessoas. Havia ali jornalistas estrangeiros, suspeitos políticos de todos os tipos, um aviador norte-americano a serviço do Governo, diversos agentes comunistas, inclusive um russo gordo e de aspeto sinistro, que diziam ser agente da OGPU e que recebera o apelido de Charlie Chan, homem que ostentava no cinturão um revólver e uma bombinha das mais bonitas, algumas famílias de espanhóis bem de vida que mais se pareciam a simpatizantes dos fascistas, dois ou três feridos da Coluna Internacional, uma turma de motoristas de caminhão que dirigia alguns caminhões franceses gigantescos, ocupada em transportar laranjas para a França e detida pela luta, e boa coleção de oficiais do Exército Popular.