Como organização militar, esse exército permaneceu neutro durante a luta, embora alguns de seus soldados fugissem aos quartéis e participassem como indivíduos. Na manhã de terça-feira eu vira dois deles nas barricadas do P.O.U.M. No início, antes da escassez de gêneros tornar-se aguda e os jornais começarem a criar e atiçar ódio, havia uma tendência a encarar a coisa toda como grande piada. Era o tipo de coisa que ocorria todos os anos em Barcelona, diziam as pessoas. George Tioli, jornalista italiano e grande amigo nosso, chegou com as calças tintas de sangue. Saíra para ver o que acontecia e estivera socorrendo um homem ferido na rua, quando alguém, para divertir-se atirara uma granada de mão e, felizmente, não o ferira muito. Lembro-me de seu comentário de que os paralelepípedos de Barcelona deviam ser numerados, pois isso economizaria muito trabalho na construção e demolição das barricadas. E lembro-me também de dois homens da Coluna Internacional, sentados em meu quarto do hotel quando ali cheguei, faminto e sujo depois de uma noite de guarda. Sua atitude era de absoluta neutralidade. Se fossem bons partidários, ao que suponho, teriam instado comigo para mudar de lado, ou mesmo aprisionado e tirado as bombas com que enchera os bolsos. Ao invés disso, meramente lamentaram comigo o ter de passar as férias montando guarda num telhado. A atitude geral era de que "isso é apenas um acerto entre os anarquistas e a polícia, e não quer dizer coisa alguma". A despeito da extensão da luta e do número de baixas, acredito que isso estivesse mais próximo da verdade que a versão oficial, que apresentava todo o acontecimento como um levante planejado.
Foi por volta de quarta-feira (5 de maio) que pareceu ocorrer uma modificação. As ruas onde as casas estavam de cortinas e venezianas cerradas apresentavam aspeto horrível. Pouquíssimos pedestres, forçados a sair por este ou aquele motivo, esgueiravam-se de um para outro lado, sacudindo lenços brancos, e num ponto em meio da Ramblas onde se estava a salvo das balas alguns homens apregoavam jornais para a rua vazia. Na terça-feira Solidaridad Obrera, o jornal anarquista, descrevera o ataque ao Centro Telefônico como uma "provocação monstruosa" (ou palavras nesse sentido), mas já na quarta-feira modificava o tom e começava a implorar para que todos voltassem ao trabalho. Os dirigentes anarquistas transmitiam a mesma mensagem pelo rádio.