A redação de La Batalla, o jornal do P.O.U.M., que não fora defendida, fora invadida e tomada pelos Guardas Civis mais ou menos ao mesmo tempo que o Centro Telefônico, mas o jornal continuava sendo impresso em outro lugar, com distribuição de alguns exemplares. Instei com todos para que permanecessem nas barricadas. As pessoas estavam incertas quanto ao que fazer, e imaginavam com inquietação como aquilo tudo ia terminar. Eu duvido que alguém já houvesse deixado as barricadas, mas todos se mostravam fartos daquela luta sem sentido, que não podia levar a qualquer decisão verdadeira, pois ninguém queria que aquilo se tornasse uma guerra civil completa, uma vez que poderia acarretar a vitória de Franco. Ouvi a manifestação desse receio em todos os lados. Até onde se podia entender, pelo que diziam as pessoas na ocasião, os membros comuns da C.N.T. queriam, e o haviam querido desde o início, apenas duas coisas: a devolução do Centro Telefônico e o desarmamento dos odiados Guardas Civis. Se o Generalato prometesse fazer essas duas coisas e também acabar com os aproveitadores no setor de gêneros alimentícios, resta pouca dúvida de que as barricadas estariam desfeitas em duas horas. Mas tornava-se óbvio que o Generalato não ia ceder. Boatos assustadores circulavam por toda a parte. Dizia-se que o Governo de Valência mandara seis mil homens para ocupar Barcelona, e que cinco mil anarquistas e soldados do P.O.U.M. deixaram a frente de Aragón para opor-se a eles. Apenas o primeiro desses boatos era verdadeiro. Da torre do observatório, vimos as formas baixas e cinzentas de navios de guerra aproximando-se do porto. Douglas Moyle, que fora marinheiro, disse que pareciam-se a destróíeres ingleses. A bem da verdade, eram mesmo, embora não ficássemos sabendo disso senão mais tarde.
Aquela noite ouvimos dizer que na Plaza de Espana quatrocentos Guardas Civis renderam-se e entregaram as armas aos anarquistas; infiltravam-se também até nós as noticias de que nos subúrbios (áreas residenciais da classe trabalhadora, em sua maior parte). a C.N.T. estava com o controle. Parecíamos estar ganhando. Mas naquela mesma noite Kopp mandou-me chamar e, com expressão grave, disse que de acordo com informações que acabara de receber o Governo estava a ponto de proscrever o P.O.U.M. e declarar guerra ao mesmo. Essa notícia causou-me choque. Era o primeiro vislumbre que tinha da interpretação que provavelmente seria dada àquela questão mais tarde. Previa vagamente que quando a luta terminasse toda a culpa seria lançada sobre o P .O. U. M., que era o partido mais fraco de todos e, portanto, o bode expiatório mais adequado.