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Capítulo 9: Capítulo 9

Página 94
E enquanto isso nossa neutralidade local estava acabada. Se o Governo nos declarasse guerra, não nos cabia outra atitude senão defender-nos, e ali no edifício da direção podíamos ter certeza de que os Guardas Civis ao lado receberiam ordem para nos atacar. Nossa única possibilidade estava em atacá-los antes. Kopp aguardava ordens pelo telefone e se ouvíssemos, em caráter definitivo, que o P.O.U.M. fora posto fora da lei, deveríamos preparar-nos de imediato para tomar o Café Moka.

Lembro-me da noite longa e de pesadelo que passamos a fortificar o edifício. Fechamos as cortinas de aço na entrada da frente e por trás delas fizemos barricada com lajes deixadas pelos trabalhadores que antes executavam algumas modificações no edifício. Demos um balanço em nosso estoque de armas. Contando os seis fuzis que estavam no telhado do Poliorama, no outro lado da rua, dispúnhamos de vinte e um, um deles defeituoso, perto de cinquenta cartuchos para cada arma, e uma dúzia de bombas; além disso, nada mais, senão algumas pistolas e revólveres. Uns doze homens, a maioria alemães, apresentaram-se voluntariamente para atacar o Café Moka, se isso fosse preciso. Atacaríamos pelo telhado, é claro, no curso da madrugada, e os apanharíamos de surpresa. Os Guardas Civis eram mais numerosos, porém tínhamos moral superior à deles e certamente poderíamos tomar o lugar de assalto, embora devessem morrer alguns na empreitada. Não dispúnhamos de comida no edifício, exceto algumas barras de chocolate, e correra o boato de que "eles" iam cortar a água. (Ninguém sabia quem eram "eles"; podia ser o Governo, que controlava a rede de água, ou a C.N.T.) Passamos bastante tempo enchendo todas as bacias nos lavatórios, todos os baldes que encontramos e, finalmente, as quinze garrafas de cerveja, já vazias, que os Guardas Civis deram a Kopp.

Eu me sentia muitíssimo mal disposto e exausto, depois de umas sessenta horas sem dormir bem. Já estávamos em altas horas da noite, e por todo o chão atrás da barricada, lá em baixo, havia gente dormindo. No andar de cima existia uma saleta, com sofá, que pretendíamos usar como posto de socorro, embora descobríssemos que, é claro, não havia qualquer iodo ou atadura. Minha esposa viera do hotel, para o caso de precisarmos de uma enfermeira. Deitei-me naquele sofá, achando que seria bom descansar meia hora antes do ataque ao Moka, no qual presumia que me matariam. Lembro-me do desconforto intolerável causado pela pistola, presa ao cinturão e enfiada no dorso. Depois disso, só lembro ter acordado com um salto e encontrado minha mulher, de pé a meu lado. Era pleno dia, nada acontecera, o Governo não declarara guerra ao P.O.U.M., a água não fora cortada, e com exceção dos disparos esporádicos nas ruas, tudo estava normal. Minha mulher disse que não tivera coragem de acordar-me, e dormira numa poltrona num dos quartos da frente.

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Capa do livro Homenagem à Catalunha
Páginas: 193
Página atual: 94

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 12
Capítulo 3 19
Capítulo 4 32
Capítulo 5 39
Capítulo 6 51
Capítulo 7 64
Capítulo 8 70
Capítulo 9 81
Capítulo 10 105
Capítulo 11 130
Capítulo 12 142
Capítulo 13 157
Capítulo 14 173