Também François ficou surpreendido ao vê-los surdir da toca desmoronada e adivinhou a causa do barulho.
— A-a-ah! — gritou para Buck. — Dá-lhe, caramba! Arreia-me nesse maldito ladrão!
Spitz também não queria outra coisa. Gania de pura raiva e impaciência, enquanto girava para trás e para a frente, espreitando a oportunidade para saltar. Buck não estava menos impaciente nem menos cauteloso, quando de igual modo se movia para trás e para a frente, procurando ganhar vantagem. Foi então que sucedeu o inesperado, aquilo que projectou a sua luta pela supremacia para um futuro longínquo, depois de passadas ainda muitas milhas de pista e canseiras.
Uma praga de Perrault, o impacte sonoro de um cacete sobre uma estrutura de ossos e um ganido estridente de dor precederam o estalar do pandemónio. O acampamento viu-se subitamente animado de formas felpudas que se moviam furtivamente — perto de uma centena de cães-lobos esfomeados que, de uma aldeia índia, tinham farejado o acampamento. Introduziram-se sorrateiramente, enquanto Buck e Spitz lutavam, e quando os homens lhes caíram em cima, empunhando vigorosos cacetes, viraram-se-lhes de dentes arreganhados. O cheiro da comida enlouquecia-os. Perrault surpreendeu um deles com o focinho enterrado no caixote das provisões. O cacete caiu pesado sobre as costelas descarnadas e o caixote virou-se, espalhando a comida pelo solo. No mesmo instante, uma vintena daquelas feras esfaimadas engalfinharam-se na luta pela posse do pão e do toucinho. Foi em vão que os cacetes desabaram sobre eles. Ganindo e uivando sob a chuva de golpes, continuaram a lutar, desvairadamente até a última migalha ser devorada.
Entretanto, os outros cães tinham saltado espantados das suas tocas para fora, mas imediatamente cairiam nas garras dos impetuosos invasores.