Na noite memorável do traiçoeiro acto de Manuel encontrava-se o juiz numa reunião da Associação dos Vinicultores e os filhos ocupados na organização de um clube de atletismo. Ninguém os viu, a ele e a Buck, sair pelo pomar, no que Buck supunha não passar de um simples passeio. E, com excepção de um homem que ali estava sozinho, ninguém os viu chegar ao pequeno apeadeiro conhecido por College Park. Esse homem falou com Manuel e entre eles tilintou dinheiro.
— É costume embalar-se a mercadoria antes de a entregar — disse o desconhecido com maus modos, e Manuel passou uma sólida corda pelo pescoço de Buck por baixo da coleira.
— Torce-a e sufocá-lo-ás o bastante — disse Manuel, e o desconhecido grunhiu uma afirmativa pronta.
Buck aceitara a corda com dignidade serena. Tratava-se, de facto, de um procedimento invulgar: mas ele aprendera a confiar nos homens que conhecia e a creditá-los por um entendimento superior ao seu. No entanto, quando as pontas da corda passaram para as mãos do desconhecido, rosnou ameaçadoramente. Dava assim a entender o seu desagrado, acreditando, no seu orgulho, que dar a entender era mandar. Mas, para surpresa sua, a corda estreitou-se em torno do pescoço, cortando-lhe a respiração. Louco de fúria, atirou-se ao homem, que, apanhando-o a meio do salto, o agarrou fortemente pelo pescoço e, com um movimento rápido, o estatelou de costas contra o chão. Foi então que a corda se apertou sem piedade, enquanto Buck, a língua de fora e o enorme peito arquejando em vão, se debatia furioso. Nunca em toda a sua vida fora tão maltratado, nem nunca em toda a sua vida se enfurecera tanto. Mas as forças em breve o abandonaram, os olhos vidraram-se-lhe, e já não deu por o comboio dar o sinal de partida e os dois homens o baldearem para dentro do furgão.
