Quando voltou a si, sentiu confusamente que a língua lhe doía e que estava a ser sacudido por um meio de transporte.
O silvo estridente de uma locomotiva a apitar numa passagem de nível elucidou-o quanto ao local onde se encontrava. Viajara vezes demais com o juiz para conhecer a sensação de ir num furgão. Abriu os olhos e neles cintilou a ira terrível de um rei ao saber-se capturado. O homem atirou-se-lhe ao pescoço, mas Buck foi mais rápido do que ele. Ferrou-lhe as mandíbulas na mão e só afrouxou quando de novo lhe fizeram perder os sentidos.
— É isso, tem ataques — disse o homem, escondendo a mão Acerada das vistas do bagageira que acorrera ao ruído da luta. — Vou levá-lo ao meu patrão, que está em São Francisco. Há lá um veterinário famoso que diz ser capaz de o curar.
Com respeito à viagem daquela noite, o homem expô-la com a devida eloquência sob um pequeno telheiro nas traseiras de uma taberna na zona ribeirinha de São Francisco.
— E tudo isto só para ganhar cinquenta dele — lamuriava —, mas asseguro-lhe que não o repetiria nem que me pagassem mil logo de entrada.
Tinha a mão envolta num lenço ensanguentado e a perna direita das calças rasgada do joelho ao tornozelo.
— Quanto é que apurou o outro tipo — perguntou o taberneiro.
— Cem — foi a resposta. —Nem menos um tostão, juro.
— O que perfaz cento e cinquenta — calculou o taberneiro —, e ele vale bem isso, ou eu não passo de um grande asno.