O apelo da floresta - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 5 / 99

O raptor de Buck desfez as ligaduras ensanguentadas e contemplou a mão dilacerada.

— Se é que eu não apanho a hidrofobia...

— E se assim não for é porque o teu destino é a forca — escarneceu o taberneiro.

— Olha, dá-me mas é uma ajuda antes de te pores a mexer com a massa — acrescentou.

Entontecido, com dores intoleráveis na garganta e na língua e meio morto de asfixia, Buck tentou fazer frente aos seus algozes, mas de todas as vezes foi derrubado e um pouco mais asfixiado, até lhe conseguirem limar e extrair do pescoço a pesada coleira de metal. S6 então a corda lhe foi tirada e ele lançado para dentro de uma espécie de jaula.

E aí passou o resto daquela noite esgotante, remoendo na sua raiva e orgulho ferido. Não atinava com o que se passava. Que lhe quereriam aqueles desconhecidos? Por que diabo o mantinham fechado naquela jaula exígua? Não sabia porquê, mas sentia a oprimi-lo a sensação vaga de uma calamidade iminente. Várias vezes durante a noite se ergueu de um salto ao ouvir o chiar da porta do telheiro a abrir-se, esperando encarar com o juiz, ou os filhos deste, pelo menos. Mas era sempre a cara bojuda do taberneiro que o espreitava à luz mortiça de uma vela de sebo. E de cada vez o latido de júbilo tremulante na garganta de Buck se estrangulava numa rosnadela feroz. `

Por fim, o taberneiro deixou-o em paz, e de manhã entraram quatro homens para carregar com a jaula. Mais algozes, concluiu Buck, pois tratava-se de criaturas com muito mau aspecto, andrajosos e desgrenhados; e, em grande agitação, pôs-se a desafiá-los através das grades. Eles, porém, riram e puseram-se a espicaçá-lo com paus, contra os quais ele imediatamente se virava de dentes arreganhados, até perceber que era isso mesmo que eles pretendiam. Em vista disso, deitou-se com ar de poucos amigos e deixou que içassem a jaula para uma carroça. A partir daí, ele e a jaula na qual se encontrava encerrado iriam passar por muitas mãos. Deixado na estação do correio ao cuidado de alguns funcionários, foi metido numa outra carroça. Um camião levou-o a ele e mais um carregamento de caixotes e embrulhos para um barco a vapor. Do vapor foi de novo transportado em camião para uma grande estação dos caminhos-de-ferro, onde finalmente foi depositado num vagão do comboio expresso.





Os capítulos deste livro