— O cão é meu — replicou Hal, limpando o sangue da boca e voltando à carga. — Saia do meu caminho, ou trato-lhe da saúde. Já lhe disse que vou para Dawson.
Thornton postou-se entre ele e Buck e não mostrava a mínima intenção de se afastar do caminho. Hal puxou da comprida faca de mato. Mercedes gritava, chorava e ria, completamente abandonada às manifestações caóticas da histeria. Thornton, como um relâmpago, bateu com o cabo da machada nos nós dos dedos de Hal, fazendo-o largar a faca, que caiu no chão. Aplicou-lhe o mesmo golpe quando ele tentava de novo apoderar-se dela. Em seguida curvou-se, apanhou-a ele próprio e com dois golpes cortou os tirantes de Buck.
Hal perdera toda a vontade de lutar. Além disso, tinha as mãos ocupadas com a irmã, ou, melhor, os braços; e Buck estava demasiado perto da morte para ser de alguma utilidade a puxar o trenó. Alguns minutos mais tarde, deixaram a margem e desceram em direcção ao rio. Buck ouviu-os partir e ergueu a cabeça para ver. Pike era o guia, Sol-leks ia junto dos patins e, no meio deles, Joe e Teek, a coxearem e vacilantes. Mercedes ia em cima do trenó ajoujado. Hal conduzia-o e Charles seguia atrás, tropeçando a cada passo.
Enquanto Buck os observava, Thornton ajoelhara-se junto dele e com as mãos rudes procurava ternamente ossos partidos. O exame nada revelou, além de numerosas escoriações e um estado terrível de subalimentação. Por essa altura encontrava-se o trenó a um quarto de milha de distancia. O homem e o cão observavam-no arrastando-se sobre o gelo. De repente, viram uma das extremidades do trenó afundar-se como que num sulco, e o varão da direcção, com Hal pendurado, elevar-se no ar. Ouviram o grito de Mercedes. Virará Charles voltar-se e dar um passo, tentando correr para trás, mas nessa altura toda a secção de gelo se desmoronou e cães e homens desapareceram. Um buraco escancarado era tudo o que restava à vista.
O leito do rio cedera sob a pista.
John Thornton e Buck olharam um para o outro.
— Pobre diabo — disse John Thornton, e Buck lambeu-lhe a mão.