Contudo, sempre que alcançava aquela terra suave e inviolada à sombra das árvores verdes, o amor por John Thornton arrastava-o de novo para junto da fogueira.
Apenas Thornton o segurava. O resto do mundo não contava. Os viajantes que por ali passavam podiam elogiá-lo, ou mesmo acariciá-lo, mas ele, perante todas estas manifestações, permanecia imperturbável, e, acaso algum se mostrasse mais expansivo, imediatamente se levantava e se punha ao largo. Quando os sócios de Thornton, Hans e Pete, chegaram na jangada há muito esperada, Buck recusou-se a dar sequer noticia deles, excepto quando percebeu serem amigos de Thornton; depois disso tolerava-os, mas de modo passivo, aceitando-lhes os favores como que por favor seu. Eram ambos homens fortes, do mesmo tipo do de Thornton, que viviam muito próximos da natureza, com pensamentos simples e uma percepção clara das coisas. Ainda não tinham penetrado com a jangada na grande enseada perto da serração de Dawson e já tinham compreendido Buck e o seu modo de ser, não insistindo mais numa intimidade que tão facilmente obtinham junto de Skeet e Nig.
Para com Thornton, contudo, o amor de Buck parecia não parar de crescer. Só ele, e mais ninguém, conseguia, durante as viagens de Verão, colocar qualquer fardo às costas de Buck. Nada lhe parecia demasiado difícil desde que fosse Thornton quem mandava. Um dia (tinham já nessa altura assegurado os lucros da jangada e o seu carregamento e partido de Dawson em direcção da corrente principal do Tanana), os homens e os cães encontravam-se sentados na crista de um penhasco que descia a pique sobre um leito de rocha, cem metros mais abaixo. John Thornton estava sentado mesmo à beira, com Buck encostado a ele. Nisto, um capricho insensato apoderou-se de Thornton, que chamou a atenção de Hans e Pete para a experiência que tinha em mente.
