O apelo da floresta - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 90 / 99

Quando Thornton, numa carícia, lhe passava a mão pelo dorso, todo o pêlo se espetava e seguia a mão, soltando estalidos na sua descarga de magnetismo acumulado. Todas as partes, cérebro ou corpo, tecido nervoso ou fibra, tinham atingido uma afinação suprema, e entre todas as partes existia um equilíbrio ou ajustamento perfeito. Às imagens, sons e incidentes que requeriam acção ele respondia com a velocidade do relâmpago. Para se defender ou para atacar, saltava duas vezes mais rápido do que o mais rápido dos cães-lobos. Via o movimento ou ouvia o som e respondia em menos tempo do que o necessário a outro cão para poder apenas ver ou ouvir. Via, determinava e respondia no mesmo instante. De facto, as três acções de ver, determinar e responder tinham uma sequência; porém, tão infinitesimais eram os intervalos entre elas, que mais pareciam simultâneas: Os músculos, sobrecarregados de vitalidade, entravam em acção soltando estalidos bruscos que faziam lembrar molas de aço. A vida corria nele num fluxo tão esplêndido, jubiloso e exuberante, que parecia, em certas alturas, querer irromper dele num êxtase puro e derramar-se pelo mundo.

— Nunca se viu cão assim — disse John Thornton aos companheiros num dia em que observavam Buck a afastar-se do acampamento.

— Quando o fizeram, partiram o molde — disse Pete.

— Caramba! Também digo — concordou Hans.

Viram-no sair do acampamento, mas não assistiram à transformação súbita e terrível que Buck sofreu ao penetrar no íntimo da floresta. Já não andava. Imediatamente, cautelosamente e de andar felino, qual sombra transitória que surge e desaparece por entre as sombras. Sabia tirar vantagem de todos os abrigos, arrastar-se sobre 0 ventre como uma cobra e, como uma cobra, saltar e atacar. Espantava a ptármiga do ninho, matava o coelho que dormia e abocanhava no ar os esquilos que demasiado tarde tentavam fugir para as árvores.





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