Retrato do Artista Quando Jovem - Cap. 1: I Pág. 9 / 273

Mas Wells devia conhecer a resposta certa, pois já andava no terceiro. Tentou imaginar como seria a mãe do Wells, mas não ousou erguer os olhos para o rosto dele. Não gostava da cara do Wells. Tinha sido Wells que o empurrara, na véspera, para dentro do fosso, por ele não ter querido trocar a sua caixinha de rapé pelo bastão de castanho seco de Wells, vencedor de quarenta batalhas. Tinha sido um gesto mesquinho; todos os rapazes estavam de acordo nesse ponto. E cômo a água estava fria e viscosa! E, ainda por cima, um dos rapazes tinha visto uma ratazana mergulhar na água lodosa.

A lama fria do fosso tinha-lhe coberto o corpo inteiro; e, quando a sineta tocou para o estudo e os rapazes formaram fileiras para sair do recreio, sentiu dentro das roupas o ar frio do corredor e das escadas. Continuava a tentar imaginar qual seria a resposta certa.

Dever-se-ia beijar a mãe ou não beijar a mãe? Que significado tinha isso, beijar?

Erguia-se o rosto para desejar uma boa noite e a mãe baixava o seu rosto. Era isso beijar. A mãe pousava os lábios na sua face; os seus lábios eram macios e molhavam-lhe a face; e produziam um pequeno ruído: o beijo. Por que motivo as pessoas faziam isso com os seus rostos?

Sentado na sala de estudo, levantou a tampa da carteira e alterou o número colado no interior, de setenta e sete para setenta e seis. Mas as férias de Natal ainda estavam longe; no entanto, algum dia haveriam de chegar, porque a Terra não parava de girar.

Havia um desenho da Terra na primeira página do livro de geografia: uma grande esfera no meio das nuvens. O Fleming tinha uma caixa de lápis de cor e, certa noite, durante o tempo livre de estudo, tinha colorido a Terra de verde e as nuvens de um castanho-avermelhado.





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